quarta-feira, novembro 29, 2006

E algum amor talvez possa...

Como são tristes e belos os versos de "Sabiá", composição de Chico Buarque e Antonio Carlos Jobim para o FIC de 1968. Acabou sagrando-se vencedora, apesar das vaias da platéia, que preferia "Pra não dizer que não falei das flores" de Geraldo Vandré.

Entretanto, devo confessar que "Sabiá" não é minha composição Buarque-Jobim favorita. Sinceramente, prefiro "Anos dourados", que é de uma perfeição em versos e harmonia incomparável. Há algo curioso sobre essa música: foi encomendada por um seriado homônimo da rede Globo, porém, só foi entregue após o término do mesmo. Chico não conseguiu cumprir o prazo.

Não é novidade que sou apaixonado por Chico Buarque. Sua música é única, a perfeita tradução do sentimento popular brasileiro. Impossível não se identificar com alguma de suas letras. É a história de nosso povo, o trato de seu cotidiano.

E as mulheres? Não é a toa que são loucas por Chico. Não apenas por seus olhos claros, o que já seria natural. Mas, por encontrarem em suas letras os mais profundos desejos e ardores que inundam suas almas. "A mais bonita", dueto em parceria com Bebel Gilberto, é um perfeito exemplo do que acabo de enunciar.



O vídeo acima foi gravado na casa do Tom, em 1976. Destacam-se as presenças de Miúcha, irmã de Chico, e Beth jobim, filha de Tom. Mas, o que mais impressiona nesse filme é a atuação de um Chico jovem, mais calmo do que o habitual. Admirando, com um respeito singular, seu maestro soberano ao piano. Os versos fluem com uma leveza inequívoca. É um momento espetacular, registro único dos anos dourados da música brasileira.

Aproveitarei este segmento para registrar meu repúdio ao cenário musical atual. A falta de qualidade é gritante, as músicas estão repletas de palavrões e insinuações. Algumas são a perfeita descrição de orgias. O funk invadiu todos os ambientes, virou a febre da imbecilidade. Até mesmo na Zona Sul, berço da Bossa Nova.
E o rock nacional? Está morto, salvo raras exceções. O ambiente é tão retrógrado, que muitas bandas vivem da regravação de sucessos do passado.

É um cenário de estagnação. A verdade, por trás disso tudo, é que minha geração não trará grande contribuição à história musical brasileira. Mas, fazer o quê? A vida tem dessas coisas.

Viva Antonio Carlos Jobim
Viva Chico Buarque de Holanda

Aos amigos,
chega de saudade,

Marcos André Ceciliano

5 comentários:

Anônimo disse...

Ótimo comentário. Uma avaliação muito justa. Chico é único!

Anônimo disse...

Legal teu texto. Esse video é ótimo.

Só não concordo quando você fala do cenário músical atual, não podemos, nem devemos pensar que a música acontece naquela caixinha chamada tv, e fora dela, na vida real, a música está acontecendo, viva, rica, intensa, radiante e livre como sempre será. Músicas boas e ruins sempre coexistirão, e sua proporção "estatisticamente" não costuma variar muito durante o tempo. Sugiro que você preste atenção principalmente no pessoal "filho" da música universal do hermeto pascoal, como no rio, a "Itiberê Orquestra Familia", o Grupo Acuri, as oficinas de música universal, ou a sempre rica música regional, como o Spock Frevo no recife.

Grande Abraço!

Marcos André Ceciliano disse...

Concordo Michel. Está correto quando diz que a música acontece em todos os lugares. Mas, a questão é: Ela está sendo difundida? Contagia e muda a vida das pessoas?
Esse é o problema. Sei da riqueza musical de meu país, mas, não há projeção. Apenas um jogo sujo de marketing da mídia que empobrece a cultura popular.

Anônimo disse...

"Sabiá" é uma música sem igual. Dentre todos os meus trezentos e tantos CDs, o que eu mais gosto é o da FAMÍLIA JOBIM, onde, além desta música, eu ouvi milhões de vezes o clássico "Passarim". Só pra citar, outra parceria dos dois que gosto muito é "Olha, Maria", que também teve colaboração do Vinícius.

Sobre o atual cenário musical, se me permitem um aparte, a mídia brasileira vai continuar tocando porcarias enquanto nossa Educação continuar uma porcaria. As produtoras vomitarão discos de latão enquanto os núcleos de educação pressionarem professores a passar alunos que não sabem escrever o próprio nome. Sendo assim, a Europa agradece nossa indiferença e ignorância.

Anônimo disse...

Como fico feliz em saber que ainda há jovens neste país que não se submetem a ouvir esse lixo musical que a mídia nos impõe.
Concordo com o colega acima, nosso grande problema é a Educação. Ela interfere em tudo. Na saúde, na violência...
Mas vamos falar de coisa boa?! Em Janeiro temos Chico no Rio para alegrar nossas férias e aliviar nossos ouvidos.
Beijinhos...