quarta-feira, janeiro 30, 2013

Sem hora marcada...

Faz tempo que não escrevo aqui. A verdade é que já ensaiei tanto o retorno a essa escrita, que não sei se deveria fazê-lo sem a motivação adequada.

Inicialmente, esse era um espaço para a discussão daquilo que acreditava justo, coerente, honesto e digno; uma resenha idealista que considero insuportável atualmente. O mundo de verdade não nos permite ser assim. Foram algumas horas, durante anos, transcrevendo meus pensamentos sobre fatos sociais que considerava relevantes.

Depois de tanto tempo, ao reler esses posts, não encontro em mim a pessoa que os criou. Em vez de tentar descobrir o que se perdeu, e como se perdeu, prefiro iniciar algo novo. Uma escrita nova, principalmente.

Hoje minha "metralhadora cheia de mágoas" está descarregada. Confesso que minhas decepções políticas ainda doem um pouco. Mas é algo de momento, uma assombração de pouca intensidade. Talvez, escrever aqui tivesse me ajudado em certos momentos nos primeiros anos do ocorrido. Mas, não me parecia uma opção à época; como não me parecia há 2 horas.

Mas, não é sobre isso que escreverei aqui. O passado é tórrido, mórbido e mordaz. Esquecê-lo é a saída menos dolorosa, sempre.

No entanto, eu realmente estava curioso em saber se ainda conseguia escrever com velocidade. Constato pasmo que cheguei a esta linha em apenas quatro minutos, de forma ininterrupta. Isso definitivamente me agradou.

Não tenho a menor intenção de descrever-me em quaisquer linhas. "Rien de rien", parafraseando Édith Piaf. O culto à babaquice da autopromoção é um desperdício de vida, um insulto a inteligência e atenção alheia.

Perceber como isso é chato e inconveniente me parece uma dádiva hoje, uma verdadeira evolução.

Muitas coisas mudaram nos últimos anos, ao que foram fartos os momentos de felicidade, ansiedade e tristeza. O cotidiano nos afasta das amizades antigas; sentimos falta de muitas coisas, de pessoas e até mesmo de discussões. 

Mas, a verdade é que cada um segue o seu caminho, vive dificuldades e dilemas. Assim é o mundo. Seria ótimo e péssimo se não houvessem mudanças.

Un attimo de lucidez e me pego a pensar nos problemas de amanhã: nos prazos e execução de projetos, nos contratos por revisar, nas planilhas de orçamento por ratificar... É tudo tão pesado, oneroso e arbitrário que, para minimizar o cenário, lembro de Salvatore Cacciola e das linhas de seu livro "...".

Levantei e procurei o livro na estante; lendo e relendo todos os títulos. Duas vezes! Não está lá! Como é possível? Me preocupo, repenso, relevo e contemporizo. Não tem problema.

Voltando ao conteúdo do livro de Cacciola, é certo que sempre quis comentá-lo. É um bravo relato de como uma política monetária predatória e a assimetria de informação podem derrubar um homem e consumir o patrimônio da sua vida.

É certo que Salvatore foi o bode expiatório para o lucro bilionário de poucos banqueiros e integrantes do Governo. A CPI, o MPF e a PF, todas essas maravilhosas instituições soberanas, só investigaram o homem que quebrou.

Os que lucraram bilhões da noite para o dia nunca foram investigados. Como entender essa lógica perversa do Brasil de FHC? É como diz a turma que brada o nome de Joaquim Barbosa, corrupta é a Dilma! Só não conseguem apontar um único indício de corrupção da Presidenta. Covardes!

Nesse instante, percebo que o texto tornou-se uma das minhas muitas conversas notívagas. Momentos em que falo comigo mesmo, com minhas angustias e consciência.

Nesse instante, sinto vontade de escrever sobre política. Só para defender o Zé Dirceu e calar a boca dessa gente idiota que reduz a cidadania ao senso comum de mocinho e bandido. E eu poderia escrever horas sobre isso. Desisto, perdi a vontade. O senso coletivo brasileiro é desestimulante.

Para finalizar o assunto, registro a seguinte percepção: O sistema republicano brasileiro é falido. Não é possível mudar o "status quo" de maneira democrática, ainda mais quando seus oponentes tem a certeza de que não poderá fazê-lo mantendo a ética. Você falha e destrói a esperança de milhões; desmistifica os reformistas e devolve o poder aos inimigos do povo. A partir dessa lógica, entendo o Zé Dirceu: não existia outro caminho.

Olho para todos os cantos do quarto, como que procurando algo, e acabo por fixar o olhar no blazer pendurado. É o de corte Italiano, aquele de que tanto gosto. Estou cansado. Essa conversa continuará em outra hora.