quinta-feira, dezembro 06, 2007

Com o peito ardendo em chamas...

Em um desses momentos de capricho, para aplacar a tormenta que há dias toma conta da minha alma, decidi que deveria ler algo que me trouxesse boa recordação. Algo com um fino trato de romancismo que há muito não me contagia. Em meio a lembranças de muitos livros, recordei um romance que me fora recomendado por um professor de literatura, quando tinha 15 anos. Infelizmente, e isso dói de uma forma contundente, o professor que sugeriu o livro não se faz mais presente.

A obra de José de Alencar, Lucíola, é o livro em questão. Não recordava mais as minúcias da história, apenas da sensação que me causaram aquelas linhas. Algo que de tão forte e apaixonante nos desconcerta. E não sou de escrever palavras assim aqui. Já não importa! Preciso desabafar o que estou sentindo. E, para mim, não existe caminho melhor do que a escrita.

A história se passa no Rio de Janeiro da corte, em ruas que até hoje frequentamos, como a do Ouvidor. Não pretendo fazer resumo da escrita. Apenas compartilharei o que me toca, um trecho das últimas páginas:

"Oh! Agora posso te confessar sem receio. Nesta hora não se mente. Eu te amei desde o momento em que te vi! Eu te amei por séculos nesses poucos dias que passamos juntos na terra. Agora que a minha vida se conta por instantes, amo-te em cada momento por uma existência inteira. Amo-te ao mesmo tempo com todas as afeições que se pode ter nesse mundo. Vou te amar enfim por toda a eternidade."

Essas foram as últimas palavras de Lúcia a Paulo. Soltas da forma que aparecem aqui não carregam a tristeza e a comoção do que viveram. E quer saber como funciona minha vida? Da mesma forma, com muita paixão a tudo o que faço. Porque, não consigo, nem por um segundo, me entregar a algo que não seja por amor.

Porque, eu amei tantas coisas que já não existem mais. O carinho que sentia por meu pai, as campanhas eleitorais do meu tio, a sala de projeção daquele cinema, tudo o que fiz do fundo do meu coração para aquela convenção. E tudo isso dói tanto. De certa forma, já estou acostumado a ter tudo o que amo arrancado de forma covarde. É por isso, que às vezes me calo e desapareço.

E mesmo quando preciso conversar para desabafar, nunca encontro as pessoas. Elas não se fazem presentes nesses momentos. Acho que sou como a triste frase de Camille Claudel: "Há sempre algo de ausente que me atormenta". Não consigo mais amar sem que exista uma dor forte e pungente.

Estou exausto. Cansado de sofrer por tantas coisas, de não encontrar razão para tantas outras. É como o choro disfarçado do Chico quando diz em voz abalada: "Eu queria que ele (Tom Jobim) estivesse aqui. Queria sentar com ele e conversar.". Nunca vi olhos tão tristes e saudosos. Essa imagem não sai da minha cabeça, ressurge a todo instante.

Aos amigos,
a ausência,

Marcos André Ceciliano