quarta-feira, julho 16, 2008

Pragmatismo econômico...

Não é fácil chegar a um alto cargo econômico em Washington, disso ninguém duvida. E não estou falando dos secretários de comércio e trabalho, que praticamente desapareceram desde o início da crise subprime. Falo de Ben Bernanke e Hank Paulson, que após uma semana de muitas discussões, apresentaram seu melhor plano para salvar Fannie Mae e Freddie Mac. E quem gostou? Ninguém. (Meu artigo anterior explica o plano)

Sem dúvida, os dois economistas não formam uma dupla óbvia. Primeiro, lá está Bernanke, o acadêmico que virou presidente do FED pelas vias de Princeton. Do outro lado, Paulson, o banqueiro que virou secretário do tesouro através da Goldman Sachs. Caminhos bem diferentes.

No entanto, eles tem algo em comum: pragmatismo. Eles encaram um problema de frente e se dedicam a resolvê-lo. Pelo bem da economia e para agradar a seus partidos políticos. Porém, o pragmatismo deles anda fugindo do que rege o senso econômico comum.

Alguns democratas acham que o governo está financiando o passeio dos ricos. No mesmo sentido, republicanos denunciam que o governo Bush virou socialista. Ambos os lados estão querendo mostrar aos eleitores que são conscientes, já pensando nas eleições de novembro, se recusando a dar a Bernanke e Paulson um cheque em branco. O problema, como Paulson corretamente explicou, é que um cheque em branco é a melhor proteção em tempos de incerteza. As perguntas que não querem calar são: o pragmatismo de Paulson e Bernanke vencerá? Deveria?

Aos amigos,
a falta de senso de meus detratores,

Marcos André Ceciliano

segunda-feira, julho 14, 2008

O socialismo de Wall Street...

No início da semana, o secretário do Tesouro americano, Henry Paulson, ex-presidente do Goldman Sachs Investment, proporcionou ao mercado uma perfeita demonstração do socialismo de Wall Street.

Paulson anunciou que a administração Bush buscaria a aprovação do congresso para colocar em prática um pacote emergencial com o intuito de salvar Fanny Mae e Freddy Mac, empresas criadas pelo governo, mas, que foram privatizadas. Durante anos, as duas instituições realizaram lucros através da garantia de títulos no mercado mortgage americano; e possuem hoje algo em torno de 5 trilhões em dívidas. Para mostrar que a solução é de longo prazo, o secretário do tesouro ainda disse que garantirá uma linha de crédito ilimitada para garantir esses débitos. O Federal Reserve anunciou que liberará os recursos assim que o congresso se manifeste.

Criadas pelo governo na década de 30, com o objetivo de dar liquidez ao mercado, essas empresas multiplicaram o capital das instituições intermediárias, atuando na compra de mortgages dos bancos. Esse foi o grande problema. Dessa forma, as mesmas realizaram mais mortgages do que suas garantias iniciais. Para completar o caos, ficou estabelecido que Fanny e Freddy teriam acesso a empréstimos com desconto, diretamente do tesouro, caso enfrentassem qualquer tipo de problemas financeiros. Suas operações eram reguladas, limitadas por lei que detalhava quais mortgages elas poderiam assumir.

Mas, como essas empresas cresceram e lucraram, seus executivos começaram a embolsar salários e bônus absurdos, dando a elas incentivos para crescer mais. Foi quando começaram a aceitar mortgages que não faziam parte do pacote regulamentado pelo governo.

Só para termos uma idéia, o presidente da Freddie Mac recebeu US$18.289.575 em vencimentos no ano passado. O CEO da Fannie Mae, Daniel Mudd, conseguiu um aumento de 7%, o que lhe garantiu um vencimento de US$13,4 milhões em 2007. No entanto, a empresa perdeu US$ 2,1 bilhões e suas ações caíram 33% no mesmo período. Ótimos empregos, sem dúvida!

Como o cenário de prejuízo não mudou no primeiro semestre de 2008, a administração Bush apresenta agora uma proposta de garantia federal para recapitalizar os dois bancos. Ou seja, estamos falando de um tipo de "socialização", que exclui lucros e altos vencimentos de executivos dos bancos.

Isso mesmo! Se as garantias funcionarem, os grandes especuladores, que fizeram despencar as ações, lucrarão fortunas com a alta. E o CEO do banco continuará a embolsar salários multimilionários. Chamo isso de socialismo de Wall Street. O lema é: suas perdas serão socializadas; seus lucros podem ser embolsados! No fim, os cidadãos americanos pagarão pela falta de capacidade gerencial das instituições.

As perguntas que não querem calar são: por que pagar dividendos a acionistas uma vez que estão utilizando dinheiro público? Por que pagar a CEO's de empresas públicas o mesmo que ganham especuladores de Wall Street?

Essas empresas estão funcionando com o dinheiro do povo americano, literalmente. Então, por que não nacionalizá-las? É verdade que o governo teria de injetar US$5 trilhões para saldar a dívida na balança de pagamentos, algo substancial. No entanto, grande parte desta quantia poderia ser amenizada com a venda de alguns ativos das instituições. E, a exemplo de outras empresas públicas dos EUA, estas poderiam ser muito bem administradas, respeitando riscos e fundamentos econômicos.

Fannie Mae e Freddy Mac são apenas o mais recente caso do socialismo de Wall Street. O Governo Bush fez o mesmo com as empresas que financiavam empréstimos de bolsas universitárias. O Federal Reserve está atuando além de sua função, fazendo com que o dinheiro de impostos garanta, não apenas a saúde dos bancos que estão sob sua regulação, mas, também, a dos fundos de hedge e financiadoras de casas, que não fazem parte do seu portfólio de proteção.

Depois da quebra da Bear Sterns, o governo americano está literalmente "apostando" o dinheiro do contribuinte. O FED já trocou mais de US$500 bilhões em títulos federais por papéis sem garantia de bancos privados e financiadoras de imóveis. Quase US$200 bilhões só em títulos mortgage.

De certa forma, faz sentido que o governo subsidie mortgages e empréstimos para bolsas universitárias. Encorajar a compra de casas e manter o alto nível educacional sempre foram os pilares centrais do desenvolvimento americano. Incentivo mais do que aplaudido pela classe média.

Só não entendo como permitem que banqueiros e investidores ganhem alto na recuperação desses papéis, ainda mais quando se financiam com o dinheiro público, enquanto o tesouro paga suas perdas. Nacionalizar empresas é um processo complicado e burocrático, mas, tenho a certeza de que seria mais barato e eficiente do que as práticas socialistas de Wall Street.

Aos amigos,
o novo disco de Carla Bruni,

Marcos André Ceciliano