domingo, abril 26, 2015

Cultura no transporte público do Rio

Há sempre algo de importante na narrativa de uma volta pela cidade, na prática do convívio social.

Estava no Metrô do Rio neste sábado, a caminho de Ipanema, e me deparei com uma cena maravilhosa: na altura do Largo do Machado, um casal adentrou a composição, cada qual carregando seu instrumento musical.

O fato de não existirem assentos livres sempre cria uma expectativa numa situação como essa: afinal, o casal com instrumentos estaria apenas na condição de passageiro ou nos brindaria, entre uma ou duas estações, com uma apresentação instrumental?

Numa batida rápida, com muita desenvoltura, tivemos a resposta. As cordas dissonantes de um violão romperam o silêncio, num movimento executado com rigor pelo rapaz franzino, de barba cheia.

Para surpresa geral, o que se iniciou foi um jazz de notas marcantes, encorpado. Mas, a polirritmia só estaria completa com as blue notes da trombeta de sua parceira, uma morena simpática, de longos cabelos negros.

A forma sincopada e notas altas se encaixaram perfeitamente a postura humilde dos executores, trazendo um momento mágico a composição. A qualidade musical da dupla transportou-nos, por alguns segundos, ao berço do Jazz, na New Orleans negra. Impacto exagerado, que somente o jazz de qualidade consegue provocar.

Infelizmente, o espetáculo improvisado durou apenas duas estações. Na última canção, a de agradecimento, a voz rouca do violeiro, até então oculta, arrancou aplausos unânimes da plateia de passageiros. E foi nesse momento que olhei em volta e pensei: essa é realmente uma cidade maravilhosa, de riqueza cultural e social.

E por um instante sorri, ao lembrar que tramita na Alerj o Projeto de Lei 2958/2014, de autoria do Dep. André Ceciliano, que permitirá apresentações culturais nas estações de barcas, trens e metrô no âmbito do Estado do Rio de Janeiro. Ato que afastará do cotidiano a cena nefasta de seguranças correndo atrás de artistas nas plataformas; utilizando-se de uma truculência descabida e incoerente.

É importante esclarecer que, inicialmente, o projeto também autorizaria a apresentação dos artistas no interior dos trens e do metrô. No entanto, por força de uma emenda modificativa, de certo Deputado do PSDB (sempre eles), alterou-se o caput, vedando a possibilidade dos artistas se manifestarem legalmente dentro dos vagões.

Independente do alterado, o projeto é um avanço por permitir a apresentação nas estações, sem qualquer restrição ou imposição de regra da concessionária de transporte. Agora é torcer para que a comissão de cultura, que avalia o texto desde março/2015, devolva o projeto ao plenário, para votação. Destaca-se o fato de que o prazo de devolução, que versava sobre o dia 01/04/2015, encontra-se ultrapassado, sem qualquer parecer emitido.

Para os que tiverem interesse em acompanhar o trâmite, segue o link do projeto na página da Alerj: http://alerjln1.alerj.rj.gov.br/scpro1115.nsf/0c5bf5cde95601f903256caa0023131b/c3b365ce09cc856783257cd00055c377?OpenDocument&Highlight=0,2958

Ficaremos na torcida para que o texto seja aprovado; e ansiosos para que essas manifestações artísticas se multipliquem nas plataformas de trens, metrô e barcas do nosso Estado. Estruturas que, diga-se de passagem, foram construídas com o dinheiro e suor do contribuinte.

Aprovem, Deputados! Nós, a população, agradecemos.