quinta-feira, novembro 16, 2006

Disputa na Câmara

Hoje, a repórter Andreza Matais, da Folha de São Paulo, escreveu uma matéria sobre a disputa pela presidência da Câmara. Segundo Matais, o PMDB anseia a cadeira para garantir a presidência da República caso ocorra um processo de impeachment contra o presidente Lula.

Andreza escreveu: "Com a doença do vice-presidente José Alencar e a possibilidade de setores da oposição insistirem no impeachment do presidente em razão do episódio do dossiê antitucano, a sucessão na Câmara se tornou uma dor de cabeça para o Planalto.".

Apesar de gostar muito das matérias de Andreza, terei de discordar nesse caso. Não há a menor possiblidade de impeachment, ainda mais por algo esdrúxulo, como a suposta compra de um dossiê fajuto. Já ouvi muita gente da imprensa comparar a situação atual do governo com aquela vivida pelo ex-presidente Fernando Collor. É um absurdo. Collor não tinha a legitimidade de Lula, que foi reeleito com 60,83% dos votos válidos. Não há um país dividido como na eleição de 1989.

A intenção do PMDB é óbvia, aproveitar-se do momento para ganhar mais força no governo. Não há dúvidas de que conseguirá manter a presidência do Senado. A derrota de Roseana no Maranhão acabou com as chances do PFL na disputa. Mas, para as ambições do partido, o Senado é pouco. O PMDB quer ser respeitado, e para isso, precisa ter poderes sobre a agenda do congresso.

O controle da agenda é a verdadeira dor de cabeça do governo. Matérias importantes como reforma política e fiscal correm o risco de serem engavetadas. Sem falar dos problemas na discussão e aprovação do orçamento. Por isso, o planalto deixou claro que apoia a reeleição dos presidentes das duas casas. Mesmo porque, Aldo já deu mostras de fidelidade ao goveno.

Negociar com o congresso é muito complicado e dispendioso. Essa semana foi aprovado o aumento do valor anual de emendas individuais, de R$ 5 para R$ 6 mihões. Isso é um absurdo! As emendas individuais deveriam ser extintas, são o caminho mais fácil para a corrupção, como no caso dos sanguessugas. Hoje, um deputado pode fazer até 20 emendas anuais, no valor total de R$ 6 milhões. Só que esta quantia quase sempre se esgota em duas ou três emendas.

Não precisa ser analista político para perceber que o esquema dos Vedoin foi amplo por garantir retorno aos deputados que destinassem emendas à compra de ambulâncias. Quantas outras empresas devem possuir esquemas parecidos? Quem se preocupa em investigar as outras emendas individuais?

A CPI dos sanguessugas está estagnada. Não há esforços para dar continuidade aos trabalhos, nem do governo, muito menos da oposição. Ao meu ver, sempre existiu um acordo de cavalheiros entre todos os partidos na questão das emendas individuais. Acordo que foi rompido pelo PSDB, por desespero na disputa presidencial. Passadas as eleições, parece não existir razão para que se continue com a perseguição. Mesmo porque, agora os parlamentares tem mais R$ 1 milhão para negociar.

Aos amigos,
concertos de Rachmaninoff,

Marcos André Ceciliano

3 comentários:

Anônimo disse...

Comparar Lula com Collor é apelação demais..
Concordo com vc, Marcos, que não há a menor possibilidade de impeachment.
É isso: Lula de novo, com a força do povo!

Abraços

Anônimo disse...

Amigo, você acertou mais uma vez. Muito bom o comentário. Não sabia do aumento das emendas individuais. Os jornais não noticiam. Ainda bem que o tenho como amigo bem informado das decisões do congresso.

Abraços!

Anônimo disse...

Na verdade todos sabem como resolver a questão da corrupção. Mas como são eles mesmo que criam as leis e respectivas formas de coerção no caso de violação, tudo fica mais fácil! Além do Princípio da Presunção de Inocência, garantido pela magna carta. Na Itália não é assim...
Sobre os acordos de cavalheiros, não tenho dúvidas também de que sempre existirão. E o povo saberá caso haja interesses que levem ao rompimento do pacto por um deles...como foi verificado neste ano.