segunda-feira, fevereiro 29, 2016

Número Zero, de Umberto Eco

Dediquei este final de semana a leitura da última obra de Umberto Eco, um dos maiores escritores italianos de todos os tempos, falecido há duas semanas.

Antes de falar da obra, registro que minha admiração por Eco data dos meus 14 anos, quando li pela primeira vez "O nome da Rosa". Uma obra enigmática, repleta de mistérios, conspirações e venenos. Não por acaso, "Il nome della Rosa" também foi o primeiro livro que li no curso de Italiano, lá pelos idos de 2008. Novamente, uma leitura fascinante.

Falar de Número Zero não será difícil. Nos primeiros capítulos, o que se arguiu da imprensa nos leva a crer que o livro seria uma crítica ao governo Berlusconi, com grande enfoque na manipulação midiática e afins. Não foi.

A tônica da história, que se passa em 1992, são as ações de um jornalista, já no fim da vida, que se considera fracassado e desiludido. Dada sua situação financeira, acaba por aceitar uma proposta de emprego num projeto de jornal, com pouquíssimas chances de ganhar as bancas. Na verdade, o lançamento do jornal não passa de um instrumento de chantagem, para que seu chefe obtenha vantagens sociais. Esse é o princípio da história, que logo mostra-se secundário.

O livro torna-se interessante quando um dos redatores confidencia uma descoberta extraordinária sobre a morte de Mussolini. Segundo o mesmo, ele possui provas de que "Il Duce" não fora assassinado, e que o corpo exposto na Piazza Loreto era de um sósia.

A trama avança, mas meu resumo termina por aqui. Esse é um livro de alta qualidade, que merece ser lido.

Descanse em paz, Umberto!

Aos amigos,
Mad Max ganhando tudo no Oscar.

domingo, fevereiro 28, 2016

O resumo da Crise Subprime no Oscar...

Acabo de assistir "The Big short", obra cinematográfica que tem bom roteiro e uma proposta inquietante: esclarecer ao grande público a complexidade da crise econômica de 2008.

Apesar do tema já ter sido abordado por outras produções, há de se reconhecer o mérito de Adam Mckay, que optou por contar a história dos poucos agentes de mercado que, ainda em 2005, perceberam os problemas nos Subprimes e CDO's.

Essa ótica invertida foi importante para o sucesso do filme, e é praticamente a mesma estratégia utilizada por Jared Dillian em "Street Freak", livro que conta em pormenores a derrocada do Lehman Brothers (recomendo a leitura).

Não restam dúvidas de que o resultado principal de "The Big short" é levar ao espectador a percepção de que a crise de 2008 não deriva de varições normais de fatores macroeconômicos, mas de uma sequência de fraudes, cometidas por bancos, agências de risco, securitizadoras e o próprio Federal Reserve.

O filme também foi bem sucedido na seleção das histórias vencedoras desse período. São impressionantes os feitos de Michael Burry, Mark Baum e Jared Vennett; não apenas pela percepção da crescente inadimplência dos subprimes, mas principalmente pela coragem em marcar posições em CDS's, em contraposição as apostas dos bancos e agências de risco da maior economia do mundo.

Mas, nem tudo é glória. O filme peca na baixa exposição das agências de risco, que fraudaram e/ou negligenciaram as análises das obrigações colateralizadas, e são as principais culpadas pela crise de 2008.

Sendo importante rememorar que, se Standard & Poor's e Moody's tivessem analisado os CDO's adequadamente, não teriam atribuído notas AAA a essas obrigações, que eram compostas em até 95% por subprimes. Sem a boa nota de classificação, essas obrigações não teriam sido compradas e se multiplicado em fundos de investimento do mundo inteiro. O que evitaria, no mínimo, a globalização da crise.

Ponto relevante é que essas são as mesmas agências que hoje rebaixam o Brasil e a Petrobras, através de relatórios simplórios e vagos.

A grande lição do filme é dada com dedo em riste, pelo personagem de Mark Baum: "Vivemos numa era de fraude na America. Não apenas nos bancos, mas no governo, educação, religião, comida e até mesmo baseball. O que me incomoda não é o fato de que fraudes não são legais. Ou que a fraude é má. Durante 15 mil anos, fraudes e pensamentos míopes nunca funcionaram. Nem ao menos uma vez. Eventualmente, você era pego e as coisas diminuíam. Quando por diabos nos esquecemos disso? Eu achava que éramos melhores que isso, realmente achava."

Outra falha do filme são as tímidas citações a George W. Bush e Alan Greenspan, dois dos principais agentes da crise americana. As passagens que os mencionam são curtas, não apresentam críticas ao liberalismo de sua gestão, e nem se preocupam em esclarecer sua negligência deliberada.

Ainda assim, o filme é um excelente resumo da crise. Não deve ganhar a estatueta, mas certamente cumpriu sua função.

Aos amigos,
A garota Dinamarquesa,