quarta-feira, abril 04, 2007

O filho de Victor Civita!

Apesar de não gostar do que é publicado na "Veja", preciso reconhecer que Roberto Civita, dono do Grupo Abril, tem uma história grandiosa. Acabei rememorando-a ao reler "notícias do planalto", de Mario Conti.

Um dos trechos mais impressionantes é o diálogo entre Roberto e seu pai, quando do seu retorno ao Brasil:

Victor Civita: Que bom que você voltou, depois de tanto tempo, e vai ficar. Agora me diga: Qual é o seu sonho, o que você quer fazer?
Roberto Civita: Quero lançar Time, Fortune e Playboy no Brasil.
O pai ficou surpreso com a resposta, e desconversou:
- Ótimo, mas agora não temos como. A editora é pequena. Você poderia começar fazendo coisas mais simples.

Essa era a segunda visita de Roberto ao Brasil. Na primeira, ele, a mãe, Sylvana e o irmão caçula, Richard, desembarcaram do SS Argentina no porto do Rio no sábado de carnaval de 1950. Vinham da Itália, onde Victor Civita os deixara três meses antes. Roberto havia passado a infância nos Estados Unidos, a mãe o obrigava a falar italiano em casa, e tinha aula de português todo dia na escola americana. Fascinado pelas descobertas atômicas, queria ser físico nuclear. No último ano de High School, mandou seu histórico para as melhores faculdades americanas de física: MIT, Rice e Caltech. Era bom aluno e foi aprovado nas três. Escolheu Rice porque obteve bolsa integral - era pesado para Victor Civita manter o filho nos EUA. Um mês depois de completar dezessete anos estava morando sozinho em Houston.

No exame do primeiro ano, Roberto Civita tirou nota baixa em física - 43, para um máximo de cem pontos. Ficara mortificado. Nunca fora tão mal numa prova. Mas, entre os quatrocentos alunos do primeiro ano, só um estudante, chamado Baker, havia tirado 81. Em segundo lugar vinha Roberto Civita. Os outros 398 receberam notas menores de 43. Mesmo assim, foi ao Departamento de Física e pediu desligamento do curso.

- Mas por quê? Você tirou a segunda nota da turma. Você está doido? - perguntou um diretor.

- Não. O Baker será um grande físico. Eu serei um físico de segunda linha. E não quero ser um físico de segunda linha - respondeu Roberto Civita.

Ele mandou carta para três outras universidades pedindo transferência imediata. Foi aceito pela Universidade da Pensilvânia. Lá, fez dois cursos simultaneamente. O de jornalismo e o da Escola Wharton de Finanças e Comércio. Completou os dois e ganhou um diploma de publisher.

No último ano do curso, candidatou-se para um estágio em Time Inc., mas, atarantado com a tese e os preparativos para o retorno ao Brasil, não teve tempo de escrever os trabalhos pedidos pela empresa. Porém, com base na conversa com o recrutador, e com uma visita rápida à empresa, foi um dos seis formandos de todo o país a ser selecionado para o estágio. Em dezoito meses de Time Inc. aprendeu mais do que em quatro anos em duas faculdades. Fez um relatório, que circulou no topo de Time Inc., respondendo à questão: "Por que a edição de Life em espanhol não vai bem?". Após o relatório de Civita, a Life em espanhol deixou de circular.

No final do estágio, a empresa lhe ofereceu um emprego no seu escritório em Tóquio. Seria vice-diretor da operação de Time Inc. no Pacífico. Roberto Civita vibrou. Era uma ótima colocação. Pediu um interurbano e contou a boa nova ao pai, em São Paulo.

- Você não acha que está na hora de voltar para casa e começar a trabalhar? - perguntou-lhe Victor Civita do outro hemisfério do planeta.

- Mas eu estou trabalhando! - gritou Roberto Civita, pois a ligação estava péssima.

- Não, não. Eu digo trabalhar a sério, numa coisa sua.

O filho de Victor Civita passou a noite em claro. Não sabia o que fazer. Ficar significava cortar os laços com a família e seguir uma carreira em Time. Tinha certeza de que, se fosse bem, depois de um período no Japão seria transferido para outro país, depois para outro, e assim até se estabelecer em Nova York e galgar postos na empresa. Voltar significava morar num país que desconhecia e com o qual não tinha identificação. Voltar para uma língua da qual entendia pouco mais que o bê-á-bá. Para a empresa paterna, que de longe, desconfiava não ser lá essas coisas. Para uma família com a qual tivera poucos contatos nos últimos cinco anos e meio. De manhã cedo, resolveu voltar. Dois elementos pesaram na escolha. Primeiro, a família, o pai, a mãe e o irmão. Era a sua gente. Em segundo, a consciência de que, com tudo o que aprendera nos Estados Unidos, poderia fazer uma diferença na empresa do pai e no Brasil. Em Time Inc., estava fadado a ser um entre outros. No Brasil, seria o único a saber os meandros de revistas: tiragens, circulação, tabela de publicidade, campanhas de lançamento e renovação de assinaturas. Seria o único e o primeiro. Não haveria um Baker à sua frente. Três décadas depois de responder ao pai, no navio em Santos, o que queria fazer, Roberto Civita tinha sua Time, Veja, a sua Fortune, Exame, e sua Playboy, Playboy.

Aos amigos,
Like a Rolling Stone,

Marcos André Ceciliano

E a CPI, é do apagão?

Bom, há muito não escrevo. Não por falta de vontade, mas, porque a agenda anda cheia. Estou com uma idéia muito boa para um artigo sobre o Roberto Civita. Entretanto, deixarei para o próximo post. Hoje, decidi abordar outro assunto: a CPI do apagão aéreo.

A oposição já deixou clara sua posição: vai bloquear a pauta de votações na câmara até que consiga a instalação da CPI. Mas, quais são os pontos dessa CPI? Estive analisando e percebi que a última coisa com que se preocupam é descobrir a razão para o caos nos aeroportos. Acabei lembrando da CPI dos Correios, que investigou mensalão, caixa 2 em campanhas, compra de votos, evasão de divisas,... Enfim, tudo, menos o esquema dos correios.

A intenção da oposição é óbvia: investigar os contratos e a estrutura da Infraero, nada sobre o suposto apagão. Então, resta a dúvida: Não seria ilegal criar uma comissão parlamentar para investigar um assunto e desviar o foco do mesmo no decorrer do processo? O que há na Infraero que a oposição está louca para trazer à tona? Quem será o pivô desse novo escândalo? Por enquanto, essas são as perguntas que não querem calar.

Aos amigos,
voltei,

Marcos André Ceciliano