quinta-feira, agosto 30, 2007

Contra Zé Dirceu...

Durante a semana, muito se falou sobre o caso do mensalão. Gostaria de ressaltar que até agora o STF apenas analisou e aceitou as denúncias contra os 40 indiciados. No entanto, para que os réus sejam condenados, o Ministério Público terá de provar as acusações.

Ontem, o site Terra publicou uma entrevista com Marco Aurélio Mello, sobre o julgamento dos envolvidos no caso. Peguntado se Dirceu estava certo ao dizer que foi considerado réu sem provas, o ministro respondeu:

“Até aqui não há prova da culpabilidade. Ele está certo. Realmente não há, nós não podemos dizer que ele é realmente culpado. Agora, que há indícios de que teria cometido desvio de conduta, há. Tanto que se recebeu a denúncia, senão ela não seria recebida”.

Nesta quinta-feira, a Folha de São Paulo publicou uma matéria reveladora sobre o julgamento dessa semana. A jornalista Vera Magalhães estava na Expand Wine Store, em Brasília, e escutou uma conversa telefônica do Ministro Lewandowski, que estava em uma mesa próxima.

Enrique Ricardo Lewandowski foi o quinto ministro do STF nomeado por Lula. Antes, era desembargador do Tribunal de Justiça de SP. Foi o único a divergir do relatório do Ministro Joaquim Barbosa, quanto à imputação do crime de formação de quadrilha para José Dirceu.

O telefonema de cerca de dez minutos, inteiramente testemunhado pela Folha, ocorreu por volta das 21h35. Segue abaixo os trechos mais tocantes da reportagem da jornalista:

Em conversa telefônica na noite de anteontem, o ministro Ricardo Lewandowski, do STF (Supremo Tribunal Federal), reclamou de suposta interferência da imprensa no resultado do julgamento que decidiu pela abertura de ação penal contra os 40 acusados de envolvimento no mensalão. "A imprensa acuou o Supremo", avaliou Lewandowski para um interlocutor de nome "Marcelo". "Todo mundo votou com a faca no pescoço." Ainda segundo ele, "a tendência era amaciar para o Dirceu".

No telefonema com Marcelo, ele deu a entender que poderia ter contrariado o relator em mais questões, não fosse a suposta pressão da mídia. Ao analisar o efeito da divulgação das conversas sobre o tribunal, disse que, para ele, não haveria maiores conseqüências: "Para mim não ficou tão mal, todo mundo sabe que eu sou independente". Ainda assim, logo em seguida deu a entender que, não fosse a divulgação dos diálogos, poderia ter divergido do relator em outros pontos: "Não tenha dúvida. Eu estava tinindo nos cascos".

Lewandowski fez ainda referência à nomeação de Carlos Alberto Direito, oficializada naquela manhã pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Negou ao interlocutor que fizesse parte de um grupo do STF contrário à escolha do ministro do Superior Tribunal de Justiça para a vaga de Pertence, como se depreende da conversa eletrônica entre ele e Cármen Lúcia. "Sou amigo do Direito. Todo mundo sabia que ele era o próximo. Tinha uma campanha aberta para ele."

Ainda em tom queixoso, gesticulando muito e passando várias vezes a mão livre pela vasta cabeleira branca enquanto falava ao celular, Lewandowski disse que a prática de trocar mensagens pelos computadores é corriqueira entre os ministros durante as sessões. "Todo mundo faz isso. Todo mundo brinca."

Já prestes a encerrar a conversa, o ministro, que ainda trajava o terno azul acinzentado e a gravata amarela usados horas antes, no último dia de sessão do mensalão, procurou resignar-se com a exposição inesperada e com o resultado do julgamento. "Paciência", disse, várias vezes. E ainda filosofou: "Acidentes acontecem. Eu poderia estar naquele avião da TAM".

Aos amigos,
Amy Winehouse,

Marcos André Ceciliano

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