sábado, dezembro 16, 2006

A CPMI falhou!

A CPMI das ambulâncias, criada para investigar a operação Sanguessuga, divulgou o relatório final dos trabalhos na última quinta-feira, 14/12/2006. Vale ressaltar que a comissão foi instalada no dia 22/06/2006 e era composta por 18 deputados federais e 18 senadores.

Acabo de ler as 415 páginas do 1º volume do relatório final, que foi divulgado após ser aprovado pela comissão. Na verdade, o resumo do relatório é que foi aprovado, porque não quiseram fazer a leitura de todas as páginas na sessão.

Para desespero dos contribuintes, que financiaram os trabalhos da comissão, o relatório está repleto de erros. Alguns são tão grosseiros que nem é preciso ser técnico para percebê-los. Que me perdoe o relator, Senador Amir Lando, mas, esse texto parece não ter sido revisado. Se o foi, houve algum congressista de má fé nesse processo.

Uma das passagens mais graves ocorreu na folha 334:

Em depoimento prestado perante o MM. Juiz Federal Dr. Jeferson Schneider, Luiz Antônio Trevisan Vedoin afirmou:

QUE com relação ao documento de fls. 191, trata-se de comprovante de pagamento de comissão, realizado em 10/10/2002, em favor de Expert Service Prod. e Serv. L., no valor de R$ 8.000,00, a pedido do prefeito do município de Nova Iguaçu/RJ;
(…)
QUE com relação ao documento de fls. 196, trata-se de comprovante de pagamento de comissão, realizado em 25/02/2003, em favor de Expert Serv. Prod. de Serv. Autom. Ltda., no valor de R$ 10.000,00, a pedido do prefeito do município de Nova Iguaçu/RJ;


Os comprovantes acima mencionados fazem parte do conjunto probatório e estão no anexo IV do relatório.

Percebam o absurdo do trecho abaixo, que consta nas páginas 335 e 336 do relatório:

Como o deputado Cornélio Ribeiro não foi reeleito em 2002, Luiz Antônio disse que houve a necessidade de “apadrinhamento” das emendas, para que pudessem ser executadas. Então, o deputado Lindemberg Farias assumiu o compromisso de manter a emenda em favor do município de Nova Iguaçu, vez que planejava lançar-se a candidatura de prefeito. Contudo, Luiz Antônio disse que o deputado Lindemberg Farias não recebeu qualquer comissão pela emenda. Já como prefeito eleito do município de Nova Iguaçu, Luiz Antônio disse que pagou Lindemberg Farias pela emenda apresentada, assegurando, logo em seguida, que ele tinha conhecimento do direcionamento da licitação.

Pela vitória na licitação, Luiz Antônio asseverou que realizou dois depósitos em favor da empresa EXPERT SERVICE, Produtos e Serviços Ltda., nos valores de R$ 8.000,00 e R$ 10.000,00, a pedido de André Siciliano, secretário de administração do município de Nova Iguaçu, conforme comprovantes de depósito de fls. 191 e 196 do Anexo IV. Afirmou também que os seus contatos em Nova Iguaçu se davam com André Siciliano e também com Léo, secretário ou subsecretário da saúde do município, atual secretário de saúde de Japeri.

1º absurdo - Dizer que um parlamentar assumiria o "apadrinhamento" de uma emenda em razão de planejar candidatar-se à prefeitura do município beneficiário, dois anos antes do pleito, é, no mínimo, fantasioso.

2º absurdo - No primeiro depoimento, Trevisan diz que Lindberg não recebeu pela emenda apresentada pelo deputado federal Cornélio. Já no segundo, Trevisan diz que pagou Lindberg Farias pela emenda apresentada por Cornélio. Uma contradição aparentemente não questionada.

3º absurdo - O texto da CPMI diz que "pela vitória na licitação", Luiz Antonio teria pago a propina à Lindberg. Entretanto, a prefeitura de Nova Iguaçu, desde a posse de Lindberg até a data do depoimento de Trevisan, não havia realizado licitação de unidades móveis. O que invalida o depoimento prestado.

4º absurdo - Segundo Trevisan, a propina foi paga ao prefeito Lindberg através de dois depósitos em favor da empresa Expert Service no valor de R$ 8.000,00 e R$ 10.000,00, conforme folhas 191 e 196 do anexo IV.
Aqui está o erro mais grosseiro do relatório: Lindberg Farias assumiu a prefeitura de Nova Iguaçu em Janeiro de 2005, mas, os comprovantes de depósito da suposta propina são de 2002 e 2003. Se Trevisan pagou ao prefeito Lindberg, os comprovantes deveriam ser de 2005.

5º absurdo - Trevisan disse que os depósitos foram feitos a pedido do secretário de administração de Nova Iguaçu, André Siciliano.
Primeiro, há uma correção a ser feita: o nome é André Ceciliano e o cargo que o mesmo exerceu foi o de secretário de governo nos 5 primeiros meses de 2005.
Agora, vamos ao que interessa: Os depósitos foram feitos, um em 2002 e outro em 2003. Entretanto, André Ceciliano era prefeito de Paracambi em 2002 e 2003 e não tinha nenhum vínculo com a prefeitura de Nova Iguaçu.

Por favor, façam o download do relatório final e percebam os erros que acabo de enunciar. Os nomes de Lindberg Farias e André Ceciliano foram maculados a esmo. Não há nenhuma evidência contra eles, apenas o interesse de ver estrelas do PT no Rio com a reputação manchada.

Quem ganha com isso?
É a pergunta que não quer calar.


Muito cordialmente,

Marcos André Ceciliano

6 comentários:

Unknown disse...

Muito bom artigo, tanto quanto a pesquisa quanto a escrita, que é clara.

Os Novos Farroupilhas disse...

Muito bem escrito, Marcos.
E a pergunta fica, né?
Quem ganha com isso?

Abraços.

Raphael Lacerda disse...

Concerteza quem ganha com isso são a oposição PSDB e PFL, que terão um assunto pra bater ainda mais no PT

Anônimo disse...

Grande amigo! Essa nem a imprensa percebeu. Será que foi de propósito?
Parabéns pelo artigo!
Meu prefeito.

Unknown disse...

Parabéns pelo ótimo artigo, rapaz. É de excelente qualidade!
Beijinhos.

Anônimo disse...

Gostosooooooooooo!
Escreve uma cartinha para mim...