domingo, dezembro 31, 2006

Addio 2006!

"I love that you get cold when it's 71 degrees out. I love that it takes you an hour and a half to order a sandwich. I love that you get a little crinkle above your nose when you're looking at me like I'm nuts. I love that after I spend the day with you, I can still smell your perfume on my clothes. And I love that you are the last person I want to talk to before I go to sleep at night. And it's not because I'm lonely, and it's not because it's New Year's Eve. I came here tonight because when you realize you want to spend the rest of your life with somebody, you want the rest of your life to start as soon as possible."



O vídeo acima é apaixonante, uma obra de arte: a última cena da comédia romântica "When Harry met Sally", estrelada por Billy Cristal e Meg Ryan.

Na cena em questão, Harry caminha pela rua, enquanto Sally está em uma festa de ano novo. Ao som de "It had to be you", Harry se dá conta do quanto ama Sally e vai correndo até o local da festa. Então, eles se encontram e acontece um dos diálogos mais emocionantes do cinema, com uma declaração de amor surpreendente.

Esse filme deu a Meg Ryan o status de namoradinha da América. "When Harry met Sally" é considerado por muitos críticos um dos melhores filmes de romance de todos os tempos.

Aos amigos,
um feliz 2007,

Marcos André Ceciliano

sábado, dezembro 30, 2006

Maluf e o bom velhinho...


Ao contrário de muitas crianças pobres do Brasil, Paulo Maluf, ex-prefeito de São Paulo, não pode reclamar do seu presente de Natal: A Justiça Federal acaba de arquivar o processo que era movido contra ele. E pior, a pedido do Ministério Público.

Maluf estava sendo processado por efetuar remessas ilegais de dinheiro ao exterior. A justiça conseguiu comprovar a denúncia através de extratos enviados por bancos suíços. Entretanto, a procuradoria retirou os documentos do processo. A justificativa, por mais absurda que pareça, é a seguinte: as autoridades suíças cederam os documentos sob a condição de que os papéis não fossem usados em processos relacionados à evasão de divisas.

Sinceramente, achei que fosse piada. Cheguei a ler a notícia duas vezes. O MP assinou um acordo para poder ver as provas do crime, mas, se comprometendo a não utilizá-las? O que é isso? Poker?

Os advogados de Maluf são geniais. Ele nunca mais poderá ser processado por essas remessas, sempre haverá esse pressuposto. O processo por lavagem de dinheiro também será arquivado, não restam dúvidas.

O fim de ano não poderia ser mais decepcionante. Só falta executarem Saddam Hussein na surdina, contrariando governos e defensores dos direitos humanos.

Aos amigos,
Ideologia do Cazuza,

Marcos André Ceciliano

quinta-feira, dezembro 28, 2006

Bater e correr...

Não é segredo que Moscow se utiliza de seus estoques de petróleo e gás natural para ditar regras a seus vizinhos. Georgia, Ukrania, Belarus e até mesmo a Polônia tem sido forçadas a aceitar acordos custosos em questões energéticas. Agora, o jogo pode mudar.

Insatisfeita com os procedimentos adotados, Belarus entrou com um ultimato: "Não pagaremos o novo subsídio. Cortem nosso fornecimento de gás e terão 20% do seu estoque diário prejudicado". A questão é simples: Um dos gasodutos mais importantes da Rússia cruza o território de Belarus.

Entretanto, o pequeno país não tem poder político para sustentar um ultimato dessa magnitude, ainda mais contra a mãe Russia. Seria necessário o apoio de outras repúblicas da Europa. O que no caso de Belarus é muito complicado, já que é constantemente criticada pela comunidade por violações a direitos humanos e civis.

Aos amigos,
Flor da idade,

Marcos André Ceciliano

domingo, dezembro 24, 2006

NYT: Marisa Monte #2

O editorial musical do The New York Times divulgou hoje a lista dos 10 melhores álbuns do ano. A surpresa foi o segundo lugar para "Infinito particular", de Marisa Monte.

Segue abaixo a lista completa:

1. Tv on the radio com "Return to cookie mountain"
2. Marisa Monte com "Infinito particular"
3. Thom Yorke com "The eraser"
4. Rosanne Cash com "Black cadillac"
5. Grizzly Bear com "Yellow house"
6. Lily Allen com "Alright, still"
7. John Legend com "Once again"
8. Joanna Newson com "YS"
9. My chemical romance com "The black parade"
10. Ghostface Killah com "Fishscale"

A segunda música do album, "Vilarejo", é uma das composições mais tocantes de Marisa. Sem falar do impactante clipe produzido e dirigido por Andrucha Waddington.



Infelizmente, a música não teve o destaque merecido dentro da mídia brasileira. É que nossos programas de variedades se preocupam demais com MC's e Tati's sei lá o quê. Talvez por isso, um estrangeiro tenha de nos ensinar a respeitar nossa criação cultural.

Aos meus amigos,
um Feliz Natal,

Marcos André Ceciliano

Comercial natalino da Victoria´s Secret

Estava assistindo a Fox News agora pouco, quando me deparei com o comercial natalino da Victoria´s Secret.



Para minha surpresa, as modelos não estavam vestidas de mamãe Noel, como em 2005. Entretanto, confesso que a campanha desse ano trará mais resultados para a empresa.

A mensagem é clara: as modelos da Victoria's Secret dirão o que as mulheres esperam nesse Natal.

Supermodels como Gisele, Adriana e Tyra repetem frases de efeito, como: "Diga que me ama", "Diga que sente minha falta", "Diga que me quer",... São os conselhos das mulheres mais desejadas do mundo para maridos e namorados. Por fim, elas dizem: "Não há presente de Natal como os da Victoria´s Secret". É uma estratégia muito inteligente, que atinge tanto homens quanto mulheres.

Parabéns a agência de publicidade!

Aos amigos,
as pernas de Adriana Lima,

Marcos André Ceciliano

Cartoons do NYT


A tira acima é publicada diariamente pelo New York Times, se chama Rudy Park. É uma das minhas favoritas. Só perde em preferência para Doonesbury.

O ex-secretário de defesa, Donald Rumsfeld, foi o tema da semana para quase todos os quadrinhos do periódico. No início, estava engraçado, mas, depois de certo tempo, tornou-se massante. Felizmente, decidiram abandonar o assunto nesse domingo. Ao que me parece, foi superado.

O cartoon de hoje, como podem ver, aborda a participação da tecnologia em nossas vidas. É uma crítica aos meios de comunicação modernos e a como nos tornamos dependentes deles. Um debate interessante e cada vez mais necessário.

Aos amigos,
Nana Caymmi,

Marcos André Ceciliano

sábado, dezembro 23, 2006

E na Tailândia...

A Tailândia por muito tempo utilizou-se da paridade cambial com o dólar, assim como a China e outros países da região. Mas, foi obrigada a flutuar a moeda durante a crise financeira da Ásia, no final dos anos 90 - uma política que trouxe estabilidade econômica. Agora, como o dólar está em queda, a Tailândia está com problemas para competir com outros mercados exportadores.

E não há perspectiva de melhoras. Washington preza pela manutenção do dólar baixo, para ajudar os exportadores americanos e, assim, diminuir o déficit da balança comercial. Bancos estrangeiros estão se desfazendo de títulos atrelados ao dólar, para diversificar investimentos e, também, porque apostam na trajetória de queda da moeda Americana.

Então, o que fará a Tailândia? Deve voltar a paridade cambial? Os investidores provavelmente abandonariam o país. Uma estratégia mais efetiva seria a de ampliar as exportações na Europa e em outros países em que a moeda esteja em vantagem sobre o dólar. Mas, esse tipo de mudança leva tempo. Até lá, a Tailândia continuará sendo vítima do sucesso de sua política econômica.


Aos amigos,
Sounds of silence,

Marcos André Ceciliano

Jornalista ou economista?

Ontem, em conversa telefônica com um amigo, ouvi a seguinte frase: "Marcos, diz uma coisa. Afinal, você é estudante de Jornalismo ou de Economia? Porque, nunca li um post sobre economia no seu Blog!"

Minha resposta foi catedrática: "Caro amigo, todas as decisões políticas influenciam a Economia. Ainda mais em um país como o Brasil, que tem poder centralizado."

Mas, após refletir um pouco, percebi que não dou espaço a assuntos estritamente econômicos. Então, decidi fazê-lo a partir de agora.

Minha preocupação sempre foi a de não repetir a notícia de outros. Mesmo porque, é muito difícil não ser influenciado por um comentário externo. Então, tudo o que publicar sobre economia será único. Escolherei assuntos pouco abordados pelos periódicos nacionais.

Vou aproveitar o espaço do post e incluir um vídeo espetacular, de uma bela Italiana.

Carla Bruni nasceu na Itália, mas, vive em Paris desde os 5 anos. Foi modelo na década de 90 e hoje é cantora. A beleza de sua música está no fato de que Carla escreve letras românticas, quase sempre embaladas ao som de seu violão.



No vídeo, Carla canta "Quelqu'un M'a Dit", seu maior sucesso. Foi essa música que a tornou a mais nova sensação da França. Bruni tem um futuro promissor na indústria musical. Sua voz é delicada, apaixonante.

Aos amigos,
Simon & Garfunkel,

Marcos André Ceciliano

sexta-feira, dezembro 22, 2006

Podcast da semana: A carta de Vianna

O que é?
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Podcast 22/12/2006

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quinta-feira, dezembro 21, 2006

Gabriela Borgerth, anotem esse nome.

Certa vez, estava no corredor da faculdade e me deparei com uma moça fazendo alguns passos de sapateado. Achei estranho. Mas, ela o fazia muito bem.

Alguns dias após o ocorrido, estava no mesmo corredor, conversando com um amigo, quando ela apareceu. Começamos a conversar e percebi que não era apenas o sapateado. Ela tinha um histórico surpreendente: havia feito balé, teatro e também cantava.

Não me contive e pedi para que cantasse algo. Ela relutou um pouco, mas, a amiga que a acompanhava insistiu. Felizmente, conseguimos convencê-la. Perguntei se conhecia "Anos dourados", de Chico Buarque e Tom Jobim. Ao que ela começou a cantar. Fiquei surpreso!

Há muito não escutava uma voz tão doce. A delicadeza da moça é cativante. Nunca gostei dessa música na voz de outros intérpretes. Mas, de uma forma surpreendente, estava adorando ouví-la na voz de Gabriela.

Depois de alguns elogios, muito merecidos por sinal, ela contou que havia participado recentemente de um festival e que havia terminado em terceiro lugar.

Consegui o vídeo do festival, vejam como não estou exagerando:



Ela canta "Preciso aprender a ser só", de Elis Regina. Infelizmente, há um pequeno delay no vídeo. A imagem chega antes do audio. Mas, isso não impede que apreciemos sua bela voz.

Para mim, um desiludido com a juventude, Gabriela é uma esperança. Uma estudante de Economia que cresceu aprendendo a valorizar a cultura nacional. Que conhece Chico Buarque, Tom Jobim e Elis Regina. E não se encanta com modismos, como os funks esdrúxulos que descrevem orgias sexuais em suas letras.

Sua percepção de cinema e teatro também é incrível. Não algo fantioso, desmedido. É com muito respeito que fala sobre atores como Gene Kelly e Fred Astaire. A beleza de sua compreensão está na sua modestia, na simplicidade de seu olhar. Percebe-se que não existem pretensões banais. Gabriela não é fútil, como a maioria. É amante das artes cênicas, apaixonada pela cultura de seu país.

Fico feliz por tê-la conhecido,
nem tudo está perdido,

Marcos André Ceciliano

Lealdade a princípios ou a interesses?


Após 12 anos de Rede Globo, Rodrigo Vianna, responsável pela área política do Jornal Nacional, foi demitido no início da semana. O motivo é claro: o jornalista virou persona non grata após questionar a falta de isonomia na cobertura das eleições presidenciais de 2006.

Ao ser demitido, escreveu uma carta de despedida para os colegas da redação. A mensagem foi enviada pela intranet da emissora. Acabou vazando. Um dos trechos mais marcantes diz o seguinte:

"...lealdade devemos ter com princípios, e com a sociedade. A Globo, infelizmente, não foi "leal" com o público. Nem com os jornalistas. Vai pagar o preço por isso. É saudável que pague. Em nome da democracia!"

Segue abaixo, a íntegra da carta do Jornalista.

Lealdade
Rodrigo Vianna

Quando cheguei à TV Globo, em 1995, eu tinha mais cabelo, mais esperança, e também mais ilusões. Perdi boa parte do primeiro e das últimas. A esperança diminuiu, mas sobrevive. Esperança de fazer jornalismo que sirva pra transformar - ainda que de forma modesta e pontual. Infelizmente, está difícil continuar cumprindo esse compromisso aqui na Globo. Por isso, estou indo embora.

Quando entrei na TV Globo, os amigos, os antigos colegas de Faculdade, diziam: "você não vai agüentar nem um ano naquela TV que manipula eleições, fatos, cérebros". Agüentei doze anos. E vou dizer: costumava contar a meus amigos que na Globo fazíamos - sim - bom jornalismo.. Havia, ao menos, um esforço nessa direção.

Na última década, em debates nas universidades, ou nas mesas de bar, a cada vez que me perguntavam sobre manipulação e controle político na Globo, eu costumava dizer: "olha, isso é coisa do passado; esse tempo ficou pra trás".

Isso não era só um discurso. Acompanhei de perto a chegada de Evandro Carlos de Andrade ao comando da TV, e a tentativa dele de profissionalizar nosso trabalho. Jornalismo comunitário, cobertura política - da qual participei de 98 a 2006. Matérias didáticas sobre o voto, sobre a democracia. Cobertura factual das eleições, debates. Pode parecer bobagem, mas tive orgulho de participar desse momento de virada no Jornalismo da Globo.

Parecia uma virada. Infelizmente, a cobertura das eleições de 2006 mostrou que eu havia me iludido. O que vivemos aqui entre setembro e outubro de 2006 não foi ficção. Aconteceu.
Pode ser que algum chefe queira fazer abaixo-assinado para provar que não aconteceu. Mas, é ruim, hem!

Intervenção minuciosa em nossos textos, trocas de palavras a mando de chefes, entrevistas de candidatos (gravadas na rua) escolhidas a dedo, à distância, por um personagem quase mítico que paira sobre a Redação: "o fulano (e vocês sabem de quem estou falando) quer esse trecho; o fulano quer que mude essa palavra no texto".

Tudo isso aconteceu. E nem foi o pior.

Na reta final do primeiro turno, os "aloprados do PT" aprontaram; e aloprados na chefia do jornalismo global botaram por terra anos de esforço para construir um novo tipo de trabalho aqui.
Ao lado de um grupo de colegas, entrei na sala de nosso chefe em São Paulo, no dia 18 de setembro, para reclamar da cobertura e pedir equilíbrio nas matérias: "por que não vamos repercutir a matéria da "Istoé", mostrando que a gênese dos sanguessugas ocorreu sob os tucanos? Por que não vamos a Piracicaba, contar quem é Abel Pereira? "

Por que isso, por que aquilo... Nenhuma resposta convincente. E uma cobertura desastrosa. Será que acharam que ninguém ia perceber?

Quando, no JN, chamavam Gedimar e Valdebran de "petistas" e, ao mesmo tempo, falavam de Abel Pereira como empresário ligado a um ex-ministro do "governo anterior", acharam que ninguém ia achar estranho?

Faltando seis dias para o primeiro turno, o "petista" Humberto Costa foi indiciado pela PF. No caso dos vampiros. O fato foi parar em manchete no JN, e isso era normal. O anormal é que, no mesmo dia, esconderam o nome de Platão, ex-assessor do ministério na época de Serra/Barjas Negri. Os chefes sabiam da existência de Platão, pediram a produtores pra checar tudo sobre ele, mas preferiram não dar. Que jornalismo é esse, que poupa e defende Platão, mas detesta Freud! Deve haver uma explicação psicanalítica para jornalismo tão seletivo!

Ah, sim, Freud. Elio Gaspari chegou a pedir desculpas em nome dos jornalistas ao tal Freud Godoy. O cara pode ter muitos pecados. Mas, o que fizemos na véspera da eleição foi incrível: matéria mostrando as "suspeitas", e apontando o dedo para a sala onde ele trabalhava, bem próximo à sala do presidente... A mensagem era clara. Mas, quando a PF concluiu que não havia nada contra ele, o principal telejornal da Globo silenciou antes da eleição.

Não vi matérias mostrando as conexões de Platão com Serra, com os tucanos.

Também não vi (antes do primeiro turno) reportagens mostrando quem era Abel Pereira, quem era Barjas Negri, e quais eram as conexões deles com PSDB. Mas vi várias matérias ressaltando os personagens petistas do escândalo. E, vejam: ninguém na Redação queria poupar os petistas (eu cobri durante meses o caso Santo André; eram matérias desfavoráveis a Lula e ao PT, nunca achei que não devêssemos fazer; seria o fim da picada...).

O que pedíamos era isonomia. Durante duas semanas, às vésperas do primeiro turno, a Globo de São Paulo designou dois repórteres para acompanhar o caso dossiê: um em São Paulo, outro em Cuiabá. Mas, nada de Piracicaba, nada de Barjas.!

Um colega nosso chegou a produzir, de forma precária, por telefone (vejam, bem, por telefone! Uma TV como a Globo fazer reportagem por telefone), reportagem com perfil do Abel. Foi editada, gerada para o Rio. Nunca foi ao ar!

Os telespectadores da Globo nunca viram Serra e os tucanos entregando ambulâncias cercados pelos deputados sanguessugas. Era o que estava na tal fita do "dossiê". Outras TVs mostraram o vídeo, a internet mostrou. A Globo, não. Provava alguma coisa contra Serra? Não. Ele não era obrigado a saber das falcatruas de deputados do baixo clero. Mas, por que demos o gabinete de Freud pertinho de Lula, e não demos Serra com sanguessugas?

E o caso gravíssimo das perguntas para o Serra? Ouvi, de pelo menos 3 pessoas diretamente envolvidas com o SP-TV Segunda Edição, que as perguntas para o Serra, na entrevista ao vivo no jornal, às vésperas do primeiro turno, foram rigorosamente selecionadas. Aquele diretor (aquele, vocês sabem quem) teria mandado cortar todas as perguntas "desagradáveis". A equipe do jornal ficou atônita. Entrevistas com os outros candidatos tinham sido duras, feitas com liberdade. Com o Serra, teria havido, deliberadamente, a intenção de amaciar.

E isso era um segredo de polichinelo. Muita gente ouviu essa história pelos corredores...

E as fotos da grana dos aloprados? Tínhamos que publicar? Claro. Mas, por que não demos a história completa? Os colegas que estavam na PF naquele dia (15 de setembro), tinham a gravação, mostrando as circunstâncias em que o delegado vazara as fotos. Justiça seja feita: sei que eles (repórter e produtor) queriam dar a matéria completa - as fotos, e as circunstâncias do vazamento. Podiam até proteger a fonte, mas escancarando o que são os bastidores de uma campanha no Brasil. Isso seria fazer jornalismo, expor as entranhas do poder..

Mais uma vez, fomos seletivos: as fotos mostradas com estardalhaço. A fita do delegado, essa sumiu!

Aquele diretor, aquele que controla cada palavra dos textos de política, disse que só tomou conhecimento do conteúdo da fita no dia seguinte. Quer que a gente acredite?
Por que nunca mostraram o conteúdo da fita do delegado no JN?

O JN levou um furo, foi isso?

Um colega nosso, aqui da Globo ouviu a fita e botou no site pessoal dele... Mas, a Globo não pôs no ar... O portal "G-1" botou na íntegra a fita do delegado, dias depois de a "CartaCapital" ter dado o caso. Era noticia? Para o portal das Organizações Globo, era.

Por que o JN não deu no dia 29 de setembro? Levou um furo?
Não. Furada foi a cobertura da eleição. Infelizmente.

E, pra terminar, aquele episódio lamentável do abaixo-assinado, depois das matérias da "CartaCapital". Respeito os colegas que assinaram. Alguns assinaram por medo, outros por convicção. Mas, o fato é que foi um abaixo-assinado em defesa da Globo, apresentado por chefes!
Pensem bem. Imaginem a seguinte hipótese: a revista "Quatro Rodas" dá matéria falando mal da suspensão de um carro da Volkswagen, acusando a empresa de deliberadamente não tomar conhecimento dos problemas. Aí, como resposta, os diretores da Volks têm a brilhante idéia de pedir aos metalúrgicos pra assinar um manifesto em defesa da empresa! O que vocês acham? Os metalúrgicos mandariam a direção da fábrica catar coquinho em Berlim!

Aqui, na Globo, muitos preferiram assinar. Por isso, talvez, tenhamos um metalúrgico na Presidência da República, enquanto os jornalistas ficaram falando sozinhos nessa eleição...
De resto, está difícil continuar fazendo jornalismo numa emissora que obriga repórteres a chamarem negros de "pretos e pardos". Vocês já viram isso no ar? Sinto vergonha...
A justificativa: IBGE (e, portanto, o Estado brasileiro) usa essa nomenclatura. Problema do IBGE. Eu me recuso a entrar nessa. Delegados de policia (representantes do Estado) costumavam (até bem pouco tempo) tratar companheiras (mesmo em relações estáveis) como "concubinas" ou "amásias".. Nunca usamos esses termos!

Árabes que chegaram ao Brasil no início do século passado eram chamados de "turcos" pelas autoridades (o passaporte era do Império Turco Otomano, por isso a nomenclatura). Por causa disso, jornalistas deviam chamar libaneses de turcos?

Daqui a pouco, a Globo vai pedir para que chamemos a Parada Gay de "Parada dos Pederastas". Francamente, não tenho mais estômago.

Mas, também, o que esperar de uma Redação que é dirigida por alguém que defende a cobertura feita pela Globo na época das Diretas?

Respeito a imensa maioria dos colegas que ficam aqui. Tenho certeza que vão continuar se esforçando pra fazer bom Jornalismo. Não será fácil a tarefa de vocês..

Olhem no ar. Ouçam os comentaristas. As poucas vozes dissonantes sumiram. Franklin Martins foi afastado. Do Bom dia Brasil ao JG, temos um desfile de gente que está do mesmo lado.
Mas sabem o que me deixou preocupado mesmo? O texto do João Roberto Marinho depois das eleições.

Ele comemorou a reação (dando a entender que foi absolutamente espontânea; será que disseram isso pra ele? Será que não contaram a ele do mal-estar na Redação de São Paulo?) de jornalistas em defesa da cobertura da Globo:

"(...)diante de calúnias e infâmias, reagem, não com dúvidas ou incertezas, mas com repúdio e indignação. Chamo isso de lealdade e confiança".

Entendi. Ele comemora que não haja dúvidas e incertezas... Faz sentido. Incerteza atrapalha fechamento de jornal. Incerteza e dúvida são palavras terríveis. Devem ser banidas. Como qualquer um que diga que há racismo - sim - no Brasil.

E vejam o vocabulário: "lealdade e confiança". Organizações ainda hoje bem populares na Itália costumam usar esse jargão da "lealdade".

Caro João, você talvez nem saiba direito quem eu sou.
Mas, gostaria de dizer a você que lealdade devemos ter com princípios, e com a sociedade. A Globo, infelizmente, não foi "leal" com o público. Nem com os jornalistas.Vai pagar o preço por isso. É saudável que pague. Em nome da democracia!

João, da família Marinho, disse mais no brilhante comunicado interno:

"Pude ter certeza absoluta de que os colaboradores da Rede Globo sabem que podem e devem discordar das decisões editoriais no trabalho cotidiano que levam à feitura de nossos telejornais, porque o bom jornalismo é sempre resultado de muitas cabeças pensando"..

Caro João, em que planeta você vive? Várias cabeças? Nunca, nem na ditadura (dizem-me os companheiros mais antigos) tivemos na Globo um jornalismo tão centralizado, a tal ponto que os repórteres trabalham mais como bonecos de ventríloquos, especialmente na cobertura política!

Cumpro agora um dever de lealdade: informo-lhe que, passadas as eleições, quem discordou da linha editorial da casa foi posto na "geladeira". Foi lamentável, caro João. Você devia saber como anda o ânimo da Redação - especialmente em São Paulo.

Boa parte dos seus "colaboradores" (você, João, aprendeu direitinho o vocabulário ideológico dos consultores e tecnocratas - "colaboradores", essa é boa... Eu não sou colaborador, coisa nenhuma! Sou jornalista!) está triste e ressabiada com o que se passou.

Mas, isso tudo tem pouca importância.

Grave mesmo é a tela da Globo - no Jornalismo, especialmente - não refletir a diversidade social e política brasileira. Nos anos 90, houve um ensaio, um movimento em direção à pluralidade. Já abortado. Será que a opção é consciente?

Isso me lembra a Igreja Católica, que sob Ratzinger preferiu expurgar o braço progressista. Fez uma opção deliberada: preferiram ficar menores, porém mais coesos ideologicamente. Foi essa a opção de Ratzinger. Será essa a opção dos Marinho?
Depois, não sabem porque os protestantes crescem...
Eu, que não sou católico nem protestante, fico apenas preocupado por ver uma concessão pública ser usada dessa maneira!

Mas, essa é também uma carta de despedida, sentimental.
Por isso, peço licença pra falar de lembranças pessoais.

Foram quase doze anos de Globo.

Quando entrei na TV, em 95, lá na antiga sede da praça Marechal, havia a Toninha - nossa mendiga de estimação, debaixo do viaduto. Os berros que ela dava em frente à entrada da TV traziam uma dimensão humana ao ambiente, lembravam-nos da fragilidade de todos nós, de como nossa razão pode ser frágil.

Havia o João Paulada - o faz-tudo da Redação.
Havia a moça do cafezinho (feito no coador, e entregue em garrafas térmicas), a tia dos doces...
Era um ambiente mais caseiro, menos pomposo. Hoje, na hora de dizer tchau, sinto saudade de tudo aquilo.
Havia bares sujos, pessoas simples circulando em volta de todos nós - nas ruas, no Metrô, na padaria.

Todos, do apresentador ao contínuo, tinham que entrar a pé na Redação. Estacionamentos eram externos (não havia "vallet park", nem catraca eletrônica). A caminhada pelas calçadas do centro da cidade obrigava-nos a um salutar contato com a desigualdade brasileira.

Hoje, quando olho pra nossa Redação aqui na Berrini, tenho a impressão que estou numa agência de publicidade. Ambiente asséptico, higienizado. Confortável, é verdade. Mas triste, quase desumano.

Mas, há as pessoas. Essas valem a pena.

Pra quem conseguiu chegar até o fim dessa longa carta, preciso dizer duas coisas...

1) Sinto-me aliviado por ficar longe de determinados personagens, pretensiosos e arrogantes, que exigem "lealdade"; parecem "poderosos chefões" falando com seus seguidores... Se depender de mim, como aconteceu na eleição, vão ficar falando sozinhos.

2) Mas, de meus colegas, da imensa maioria, vou sentir saudades.
Saudades das equipes na rua - UPJs que foram professores; cinegrafistas que foram companheiros; esses sim (todos) leais ao Jornalismo.
Saudades dos editores - que tiveram paciência com esse repórter aflito e procuraram ser leais às minúcias factuais.
Saudades dos produtores e dos chefes de reportagem - acho que fui leal com as pautas de vocês e (bem menos) com os horários!
Saudades de cada companheiro do apoio e da técnica - sempre leais.
Saudades especialmente, das grandes matérias no Globo Repórter - com aquela equipe de mestres (no Rio e em São Paulo) que aos poucos vai se desmontando, sem lealdade nem respeito com quem fez história (mas há bravos resistentes ainda).

Bem, pelo tom um tanto ácido dessa carta pode não parecer. Mas levo muita coisa boa daqui.

Perdi cabelos e ilusões. Mas, não a esperança.

Um beijo a todos.
Rodrigo Vianna.

sábado, dezembro 16, 2006

A CPMI falhou!

A CPMI das ambulâncias, criada para investigar a operação Sanguessuga, divulgou o relatório final dos trabalhos na última quinta-feira, 14/12/2006. Vale ressaltar que a comissão foi instalada no dia 22/06/2006 e era composta por 18 deputados federais e 18 senadores.

Acabo de ler as 415 páginas do 1º volume do relatório final, que foi divulgado após ser aprovado pela comissão. Na verdade, o resumo do relatório é que foi aprovado, porque não quiseram fazer a leitura de todas as páginas na sessão.

Para desespero dos contribuintes, que financiaram os trabalhos da comissão, o relatório está repleto de erros. Alguns são tão grosseiros que nem é preciso ser técnico para percebê-los. Que me perdoe o relator, Senador Amir Lando, mas, esse texto parece não ter sido revisado. Se o foi, houve algum congressista de má fé nesse processo.

Uma das passagens mais graves ocorreu na folha 334:

Em depoimento prestado perante o MM. Juiz Federal Dr. Jeferson Schneider, Luiz Antônio Trevisan Vedoin afirmou:

QUE com relação ao documento de fls. 191, trata-se de comprovante de pagamento de comissão, realizado em 10/10/2002, em favor de Expert Service Prod. e Serv. L., no valor de R$ 8.000,00, a pedido do prefeito do município de Nova Iguaçu/RJ;
(…)
QUE com relação ao documento de fls. 196, trata-se de comprovante de pagamento de comissão, realizado em 25/02/2003, em favor de Expert Serv. Prod. de Serv. Autom. Ltda., no valor de R$ 10.000,00, a pedido do prefeito do município de Nova Iguaçu/RJ;


Os comprovantes acima mencionados fazem parte do conjunto probatório e estão no anexo IV do relatório.

Percebam o absurdo do trecho abaixo, que consta nas páginas 335 e 336 do relatório:

Como o deputado Cornélio Ribeiro não foi reeleito em 2002, Luiz Antônio disse que houve a necessidade de “apadrinhamento” das emendas, para que pudessem ser executadas. Então, o deputado Lindemberg Farias assumiu o compromisso de manter a emenda em favor do município de Nova Iguaçu, vez que planejava lançar-se a candidatura de prefeito. Contudo, Luiz Antônio disse que o deputado Lindemberg Farias não recebeu qualquer comissão pela emenda. Já como prefeito eleito do município de Nova Iguaçu, Luiz Antônio disse que pagou Lindemberg Farias pela emenda apresentada, assegurando, logo em seguida, que ele tinha conhecimento do direcionamento da licitação.

Pela vitória na licitação, Luiz Antônio asseverou que realizou dois depósitos em favor da empresa EXPERT SERVICE, Produtos e Serviços Ltda., nos valores de R$ 8.000,00 e R$ 10.000,00, a pedido de André Siciliano, secretário de administração do município de Nova Iguaçu, conforme comprovantes de depósito de fls. 191 e 196 do Anexo IV. Afirmou também que os seus contatos em Nova Iguaçu se davam com André Siciliano e também com Léo, secretário ou subsecretário da saúde do município, atual secretário de saúde de Japeri.

1º absurdo - Dizer que um parlamentar assumiria o "apadrinhamento" de uma emenda em razão de planejar candidatar-se à prefeitura do município beneficiário, dois anos antes do pleito, é, no mínimo, fantasioso.

2º absurdo - No primeiro depoimento, Trevisan diz que Lindberg não recebeu pela emenda apresentada pelo deputado federal Cornélio. Já no segundo, Trevisan diz que pagou Lindberg Farias pela emenda apresentada por Cornélio. Uma contradição aparentemente não questionada.

3º absurdo - O texto da CPMI diz que "pela vitória na licitação", Luiz Antonio teria pago a propina à Lindberg. Entretanto, a prefeitura de Nova Iguaçu, desde a posse de Lindberg até a data do depoimento de Trevisan, não havia realizado licitação de unidades móveis. O que invalida o depoimento prestado.

4º absurdo - Segundo Trevisan, a propina foi paga ao prefeito Lindberg através de dois depósitos em favor da empresa Expert Service no valor de R$ 8.000,00 e R$ 10.000,00, conforme folhas 191 e 196 do anexo IV.
Aqui está o erro mais grosseiro do relatório: Lindberg Farias assumiu a prefeitura de Nova Iguaçu em Janeiro de 2005, mas, os comprovantes de depósito da suposta propina são de 2002 e 2003. Se Trevisan pagou ao prefeito Lindberg, os comprovantes deveriam ser de 2005.

5º absurdo - Trevisan disse que os depósitos foram feitos a pedido do secretário de administração de Nova Iguaçu, André Siciliano.
Primeiro, há uma correção a ser feita: o nome é André Ceciliano e o cargo que o mesmo exerceu foi o de secretário de governo nos 5 primeiros meses de 2005.
Agora, vamos ao que interessa: Os depósitos foram feitos, um em 2002 e outro em 2003. Entretanto, André Ceciliano era prefeito de Paracambi em 2002 e 2003 e não tinha nenhum vínculo com a prefeitura de Nova Iguaçu.

Por favor, façam o download do relatório final e percebam os erros que acabo de enunciar. Os nomes de Lindberg Farias e André Ceciliano foram maculados a esmo. Não há nenhuma evidência contra eles, apenas o interesse de ver estrelas do PT no Rio com a reputação manchada.

Quem ganha com isso?
É a pergunta que não quer calar.


Muito cordialmente,

Marcos André Ceciliano

Podcast da semana: Lula é ladro!

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Podcast 16/12/2006

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quarta-feira, dezembro 13, 2006

It´s a terrible law

Já que o tema da semana é cinema, escreverei sobre uma das produções mais aclamadas da história do cinema, "Anchors Aweigh". Estrelado por Gene Kelly, Frank Sinatra e Dean Stockwell. O filme ganhou o Oscar de melhor trilha sonora, além de ter sido indicado em outras 4 categorias: melhor filme, melhor ator (Gene Kelly), melhor canção original ("I Fall in Love Too Easily") e melhor fotografia.

Este filme está na minha lista dos 10 melhores de todos tempos. Não apenas pelo elenco, o que já seria um motivo justo, mas, por ser um musical completo. Os cenários, a música, o sapateado, são de uma perfeição clássica, única. Algo que não temos hoje. O cinema americano atual é prostituído, banalizado. Não apenas pela futilidade dos roteiros, mas, porque se tornou algo puramente comercial. Não é à toa que produções alemãs de baixo custo, como "Adeus Lenin", estejam desbancando as milionárias americanas. Isso porque o que falta em dinheiro para as produções Europeias, sobra em cultura e criatividade.



O vídeo acima guarda uma curiosidade: No roteiro original, Mickey Mouse seria o desenho animado que faria a cena musical com Gene Kelly. Porém, como Walt Disney não autorizou a utilização do personagem em um filme da Metro-Goldwyn-Mayer, Kelly resolveu usar um desenho do próprio estúdio: o rato Jerry, da dupla Tom e Jerry.

É uma cena inesquecível, atemporal. Algo que a pobre Hollywood de hoje não conseguiria reproduzir.

Aos meus amigos,
cenas de Cover Girl,

Marcos André Ceciliano

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Ela faz cinema...

Meu domingo foi, como direi, um tanto quanto cinematográfico. Digno de um filme do Kubrick.

Não cheguei a escrever aqui, mas, há algumas semanas fui procurado por um amigo, que perguntou sobre a disponibilidade do cinema para a gravação de algumas cenas de um curta-metragem. Como não havia impedimentos, marcamos para o dia 10/12.


O diretor do curta, Leonardo Esteves, é um jovem, poucos anos mais velho que eu. Não foi difícil simpatizar com ele. O curta se chama "Emprego temporário" e tem patrocínio da Prefeitura do Rio e da Petrobras.

Conheci toda a equipe: Joana, Liana, Carol, Haroldo,... Conversamos bastante durante o processo de gravação. Na verdade, nos divertimos bastante. Nossos assuntos oscilaram desde cenas de "Clockwork Orange" até o desempenho de Jefferson na CPI dos correios. Carol contou que cobriu a comissão por um bom tempo e que se divertia com as fofocas dos bastidores do poder.

Uma curiosidade durante a gravação do curta, é que precisaram escrever uma frase no letreiro do cinema: "Breve aqui mais um templo do Senhor". Porque, no roteiro, o cinema em questão é transformado em igreja Evangélica.


O fato inusitado é que o cinema fica em frente a igreja católica da cidade. No momento em que a cena estava sendo gravada, o padre apareceu. Percebi em seu olhar certo espanto ao ler o letreiro. Fui até ele e expliquei o que acontecia, ao que ele demonstrou alívio.

Também conversei bastante com o câmera, Wandercy. Um senhor que trabalhou no Cine Jornal durante 40 anos e que hoje é funcionário do Acervo Nacional. Entre outras coisas, contou sobre gravações de partidas de futebol que realizou no maracanã, do tempo em que ficava no fosso com a câmera e era alvo dos torcedores da geral. Disse que os trabalhos no acervo estão paralisados desde que o casal Garotinho começou a governar o estado, ou seja, há oito anos.


No fim, estávamos exaustos. As gravações começaram às 8:00h e terminaram às 19:00h. Nossas conversas renderam muitos projetos. Leonardo ficou interessado na realização de um festival de curtas regional. Vamos estimar custos e conversar a respeito posteriormente.

No mais, foi uma experiência muito proveitosa.

Aos meus amigos,
trilha de Ennio Morricone,

Marcos André Ceciliano

domingo, dezembro 10, 2006

Et tu, Brute?

Sempre acreditei no poder das palavras, na capacidade de persuasão dos oradores. Infelizmente, no contexto atual, é raro encontrarmos discursos de qualidade. Nesse ponto, sinto falta do período de conflitos mundiais.

A guerra fria, por exemplo, foi uma guerra de discursos. Muito bons, por sinal. A bipolariadade, carregada de ideologia, gerava uma retórica maravilhosa. Dentre os que mais me marcaram, destaco o do presidente John Fitzgerald Kennedy, na American University, em 1962. Entre outras coisas, Kennedy apela para a conciliação entre os blocos, na tentativa de proteger a humanidade do perigo nuclear. Irei postar o vídeo dessa oratória futuramente.

Acho que o primeiro exemplo da importância dos discursos me ocorreu ainda jovem, com uns 14 anos, ao ler Julio César pela primeira vez. O discurso inflamado de Marco Antônio me impressionou. Para os que não se lembram da peça de Shakespeare, vale ressaltar que Julio César acabara de ser assassinado no Senado e que Marco Antônio teria o direito de pronunciar-se em seu funeral. Até então, a população apoiava a conspiração responsável pelo assassinato de César. Mas, isso mudou após as palavras de Antônio.

Acabei relendo o trecho e decidi colocá-lo à disposição dos amigos.

Espero que gostem!

Marcos André Ceciliano


ANTÔNIO - Concidadãos, romanos, bons amigos, concedei-me atenção. Vim para o enterro fazer de César, não para elogiá-lo. Aos homens sobrevive o mal que fazem, mas o bem quase sempre com seus ossos fica enterrado. Seja assim com César. O nobre Bruto vos contou que César era ambicioso. Se ele o Júlio César foi, realmente, grave falta era a sua, tendo-a César gravemente expiado. Aqui me encontro por permissão de Bruto e dos restantes - Bruto é homem honrado, como os outros; todos, homens honrados - aqui me acho para falar nos funerais de César. César foi meu amigo, fiel e justo; mas Bruto disse que ele era ambicioso, e Bruto é muito honrado. César trouxe numerosos cativos para Roma, cujos resgates o tesouro encheram. Nisso se mostrou César ambicioso? Para os gritos dos pobres tinha lágrimas. A ambição deve ser de algo mais duro. Mas Bruto disse que ele era ambicioso, e Bruto é muito honrado. Vós o vistes nas Lupercais: três vezes recusou-se a aceitar a coroa que eu lhe dava. Ambição será isso? No entanto, Bruto disse que ele era ambicioso, sendo certo que Bruto é muito honrado. Contestar não pretendo o nobre Bruto; só vim dizer-vos o que sei, realmente. Todos antes o amáveis, não sem causa. Que é então que vos impede de chorá-lo? O julgamento! Foste para o meio dos brutos animais, tendo os humanos o uso perdido da razão. Perdoai-me; mas tenho o coração, neste momento, no ataúde de César; é preciso calar até que ao peito ele me volte.

PRIMEIRO CIDADÃO - Penso que em sua fala há muito senso.

SEGUNDO CIDADÃO - Se bem considerardes, procederam muito mal contra César.

TERCEIRO CIDADÃO - Sim, amigos? Temo que em seu lugar venha outro pior.

QuARTO CIDADÃO - Prestastes atenção no que ele disse? Recusou a coroa. Logo, é certo não ter sido ambicioso.

PRIMEIRO CIDADÃO - Isso provado, muita gente terá de pagar caro.

SEGUNDO CIDADÃO - Pobre alma! Tinha os olhos como fogo, à força de chorar.

TERCEIRO CIDADÃO - Em toda Roma não há ninguém mais nobre do que Antônio.

QUARTO CIDADÃO - Atenção! Ele vai falar de novo.

ANTÔNIO - Até ontem a palavra do alto César podia resistir ao mundo inteiro. Hoje, ei-lo aí, sem que ante o seu cadáver se curve o mais humilde. Ó cidadãos! Se eu disposto estivesse a rebelar-vos o coração e a mente, espicaçando-os para a revolta, ofenderia Bruto, ofenderia Cássio, que são homens honrados, como vós bem o sabeis. Não pretendo ofendê-los; antes quero ofender o defunto, a mim e a vós, do que ofender pessoas tão honradas. Vede este pergaminho: traz o selo de César. Encontrei-o no seu quarto; é o testamento dele. Caso o povo sua leitura ouvisse - desculpai-me, mas não pretendo lê-lo - correriam todos a depor beijos nas feridas do morto César e a tingir os lenços em seu sagrado sangue. Mais: viriam mendigar-lhe um cabelo, por lembrança, que, ao morrerem, seria em testamento transmitido aos herdeiros sucessivos, como rico legado.

QUARTO CIDADÃO - Desejamos ouvir o testamento. Lede-o, Antônio.

CIDADÃOS - O testamento! Lede o testamento de César!

ANTÔNIO - Acalmai-vos, bons amigos. Não posso lê-lo; não convém ficardes sabendo quanto César vos amava. Não sois de pedra, nem de pau, mas homens; e, como tal, se ouvísseis a leitura do testamento dele, poderíeis inflamados ficar, ficar furiosos. Conveniente não é ficardes todos sabendo que os herdeiros sois de César; pois se o soubésseis, que não se daria?

QUARTO CIDADÃO - O testamento! Lede o testamento de César, Marco Antônio! Lede-o logo!

ANTÔNIO - Não podeis acalmar-vos um momento? Fui indiscreto ao vos falar sobre isso. Temo ofender quantos honrados homens apunhalaram César. Temo-o muito.

QUARTO CIDADÃO - Homens honrados, nada! São traidores.

CIDADÃOS - São vilãos e assassinos todos eles. O testamento! Lede o testamento!

ANTÔNIO - Forçais-me, então, a ler o testamento? Sendo assim, vinde em cfrculo postar-vos ao redor do cadáver, porque eu possa apontar-vos o autor do testamento. Posso descer? Consentireis que o faça?

CIDADÃOS - Vinde para cá.

SEGUNDO CIDADÃO - Descei.
(Antônio desce da tribuna.)

TERCEIRO CIDADÃO - Estais autorizado a fazê-lo.

QUARTO CIDADÃO - Façamos um círculo.

PRIMEIRO CIDADÃO - Afastai-vos do ataúde Afastai-vos do corpo!

SEGUNDO CIDADÃO - Demos lugar para Antônio, para o muito nobre António!

ANTÔNIO - Não me aperteis tanto. Afastai-vos um pouco.

CIDADÃOS - Recuai! Espaço! Recuai!

ANTÔNIO - Se lágrimas tiverdes, preparai-vos neste momento para derramá-las. Conheceis este manto. Ainda me lembro quando César o estreou; era uma tarde de verão, em sua tenda, justamente no dia em que vencera os fortes nérvios. Vede o furo deixado pela adaga de Cássio; contemplai o estrago feito pelo invejoso Casca; através deste apunhalou-o o muito amado Bruto, e ao retirar seu aço amaldiçoado, observai com cuidado como o sangue de César o seguiu, como querendo vir para a porta, a fim de convencer-se se era Bruto, realmente, quem batia por modo tão grosseiro, porque Bruto, como o sabeis, era o anjo do finado. Julgai, ó deuses! quanto o amava César. De todos, foi o golpe mais ingrato, pois quando a Bruto viu o nobre César, a ingratidão mais forte do que o braço dos traidores, de todo o pôs por terra. O coração potente, então, partiu-se-lhe e, no manto escondendo o rosto, veio cair o grande César justamente ao pé da estátua de Pompeu, que sangue todo o tempo escorria. Que queda essa, caros concidadãos! Eu, vós, nós todos nesse instante caímos, alegrando-se sobre nós a traição rubra de sangue. Oh! Vejo que chorais, que sois sensíveis à impressão da piedade. Delicadas lágrimas derramais. Mas chorais tanto, bondosas almas, só de o manto verdes do nosso César, cheio, assim, de furos? Então olhai para isto, o próprio corpo de César, deformado por traidores.

PRIMEIRO CIDADÃO - Oh espetáculo lamentável!

SEGUNDO CIDADÃO - Oh nobre César!

TERCEIRO CIDADÃO - Oh dia de luto!

QUARTO CIDADÃO - Oh celerados! Oh traidores!

PRIMEIRO CIDADÃO - Que espetáculo sangrento!

SEGUNDO CIDADÃO - Queremos vingança!

CIDADÃOS - Vingança! Vamos procurá-los! Fogo! Morte! Fogo! Matemos os traidores!

ANTÔNIO - Parai, concidadãos!

PRIMEIRO CIDADÃO - Silêncio! Ouçamos o nobre António.

SEGUNDO CIDADÃO - Queremos ouvi-lo; iremos para onde ele for; queremos morrer com ele!

ANTÔNIO - Bons e amáveis amigos, não desejo levar-vos a uma súbita revolta. Os autores deste ato são honrados. Ignoro as causas, ai! particulares que a este extremo os levaram; mas são sábios, todos eles, e honrados, e decerto vos dariam razões do que fizeram. Não vim aqui roubar-vos, meus amigos, o coração. Careço da eloqüência de Bruto. Sou um homem franco e simples, como bem o sabeis, que tinha o mérito de amar o seu amigo, o que sabiam perfeitamente quantos permitiram que eu viesse falar dele. Pois é fato: não tenho espírito, valor, palavras, gesto, eloqüência e a força da oratória para inflamar o sangue dos ouvintes. Contento-me em falar tal como falo, simplesmente, dizendo-vos apenas o que todos sabeis, e ora vos mostro as feridas do nosso caro César - pobres bocas sem fala! - concitando-as a falarem por mim. Se eu fosse Bruto, sendo ele Antônio, agora aqui teríeis um Antônio capaz de levantar-vos o espírito e em cada uma das feridas de César uma voz pôr, que faria revoltarem-se as pedras da alta Roma.

CIDADÃOS - Revolta, sim! Revolta!

PRIMEIRO CIDADÃO - Queimaremos logo a casa de Bruto.

TERCEIRO CIDADÃO - Então partamos sem demora. Peguemos os traidores.

ANTÔNIO - Concidadãos, ouvi-me. Vou falar-vos.

CIDADÃOS - Que fale Antônio, o muito nobre Antônio!

ANTÔNIO - Sabeis, amigos, o que estais a ponto de realizar? Em que mereceu César ser a tal ponto amado de vós todos? Ah! não o sabeis. Preciso, então, contar-vos. E o testamento, já vos esquecestes, de que falei há pouco?

CIDADÃOS - É certo! É certo! O testamento! Ouçamos a leitura do testamento!

ANTÔNIO - Aqui vo-lo apresento, com o selo ainda de César. César deixa para cada romano em separado setenta e cinco dracmas.

SEGUNDO CIDADÃO - Nobilíssimo César! Vamos vingar a morte dele!

TERCEIRO CIDADÃO - Oh real César!

ANTÔNIO - Ouvi-me com paciência.

CIDADÃOS - Olá! Silêncio!

ANTÔNIO - Além disso, deixou-vos seus passeios, caramanchões privados e os recentes jardins por ele feitos neste lado do Tibre. Sim, deixou-vos, para sempre, para vossos herdeiros, como pontos de diversão comum, porque pudésseis passear e distrair-vos. Foi um César, realmente! Outro igual, quando teremos?

PRIMEIRO CIDADÃO - Nunca! Nunca! Sigamos para a praça sagrada, a fim de o corpo ali queimarmos, e com os tições as casas incendiemos de todos os traidores. Carreguemos o corpo.

SEGUNDO CIDADÃO - Trazei fogo.

TERCEIRO CIDADÃO - Derrubemos os bancos.

QUARTO CIDADÃo - Derrubai logo janelas, cadeiras, o que for.
(Saem os cidadãos, com o corpo de César.)

ANTÔNIO - Que vá por diante. Desgraça, estás de pé; toma ora o curso que bem te parecer.