O caso de Aaron Swartz talvez ilustre o cenário mais extremo e triste do impacto das novas tecnologias no mundo. Brilhante, bem intencionado e precoce, assim era descrito o jovem prodígio da internet, que suicidou-se aos 26 anos.
No currículo de Aaron estão algumas façanhas tecnológicas, como o prêmio ArsDigita, aos 13 anos; a co-criação do RSS, aos 14 anos; e a criação da plataforma do Creative Commons, aos 15 anos. Em 2010, fundou a Demand Progress, um grupo político de defesa dos direitos da cidadania, para acompanhar as atividades parlamentares do Congresso Americano.
Um dos pontos altos de seu ativismo político foi a valorosa participação na campanha contra o SOPA, uma emenda anti-pirataria que estava prestes a ser votada no Congresso Americano. Caso a emenda fosse aprovada, centenas de sites sairiam do ar da noite para o dia, sem direito sequer a um processo judicial.
Os problemas do jovem com a justiça americana começaram em 2008, aos 22 anos, quando ele percebeu que os cidadãos pagavam caríssimo para ter acesso as jurisprudências das cortes federais dos EUA, através do sistema Pacer.
Uma vez que o contribuinte já havia pago por aqueles documentos, o que estava sendo cobrado era o serviço de hospedagem e a interface de acesso aos documentos. Assim sendo, Swartz decidiu realizar o download de 40 milhões de páginas de processos, para torná-los públicos gratuitamente, através de um portal sem fins lucrativos.
Não foram registradas quaisquer acusações contra Aaron no caso Pacer, em razão dos documentos serem de domínio público. No entanto, o jovem percebeu algo a partir da análise global dos dados: uma forte correlação entre o financiamento de pesquisas jurídicas e o uso de pareceres em decisões favoráveis nos tribunais federais americanos.
Pode-se dizer que a via crucis do jovem começou mesmo em 2013, quando ele teve acesso a rede da Jstor, um repositório digital de artigos científicos. Aaron era pesquisador de Harvard, e pensou no quão maravilhoso seria criar um portal para que toda a comunidade científica internacional tivesse acesso àqueles documentos gratuitamente. O jovem se agarrava ao fato de que os autores dos artigos não recebiam nada por aquele serviço, apenas a Jstor, que somente digitalizou os documentos.
Aaron aproveitou seu acesso ao MIT, e plugou um notebook na rede, iniciando o download em massa dos artigos. Não contava ele que o serviço secreto americano lhe prepararia uma armadilha. Foi preso e indiciado por fraude eletrônica, fraude de computador, por obter ilegalmente informações de um computador protegido e por danos à um computador protegido.
Com a alegação de que o jovem tinha acesso autorizado a rede do MIT e poderia estar atuando numa pesquisa para comprovar correlação entre dados, o Procurador Federal Ortiz inseriu outras 9 acusações criminais contra Aaron, baseadas numa lei obsoleta sobre computadores, de 1984.
Aaron não aguentou a pressão do processo e suicidou-se em 11/11/2013, em NY. Seus pais o descreviam como emocionalmente vulnerável, fato que havia sido informado aos promotores.
O mundo da tecnologia lamentou profundamente sua morte. O professor da Harvard Law School, Lawrence Lessig, que era seu amigo e mentor, promoveu-lhe diversas homenagens, inclusive no documentário "The Internet's Own Boy".
Sir Tim Beners-Lee, criador da internet (World Wide Web), escreveu o seguinte:
Sir Tim Beners-Lee, criador da internet (World Wide Web), escreveu o seguinte:
"Aaron está morto. Errantes desse mundo louco, perdemos um mentor, um sábio líder. Hackers pela justiça, nos falta um, perdemos um dos nossos. Educadores, cuidadores, ouvintes, alimentadores, pais, todos nós perdemos um filho. Choremos por ele."
Minha percepção é de que Aaron foi um intelectual, ativista político e habilidoso programador, que queria difundir gratuitamente o conhecimento. Algo que ele considerava uma forma de justiça social.
Com toda a sua capacidade técnica, em vez de lutar por livre acesso a informação, Aaron poderia ter criado uma rede social, como o facebook, e acumulado um patrimônio de bilhões.
Aaron Swartz foi realmente um herói.
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