terça-feira, junho 24, 2008

O que esperar da OGX?

As sucessivas altas no preço da ação OGXP3, da empresa de petróleo de Eike Batista, são uma incógnita. O IPO da OGX, lançado no último dia 13, foi regido por regras não muito usuais, como o mínimo de R$ 200 mil em aporte.

A empresa, criada ano passado, ainda não começou a prospectar e até agora não tem reservas provadas. Hoje, sua estrutura conta com menos de 100 funcionários. Apesar disso, sua proposta inicial captou US$3,6 bilhões, igualando seu valor de mercado ao da Google quando abriu seu capital, em 2004.

A idéia para a criação da empresa aparentemente veio de Eike, enquanto discutia os termos da divisão dos campos existentes. O monopólio da Petrobras terminou em 1996, mas, nunca existiu competitividade após essa data. Mesmo porque, a empresa sempre aproveitou sua posição dominante para persuadir os competidores potenciais a trabalharem em parceria, ao invés de criarem empresas concorrentes dentro do país.

Então, Eike pensou: Por que não posso contratar esse pessoal da Petrobras, que é tão bom em achar petróleo, pagar mais do que estão acostumados e utilizar seus conhecimentos para decidir quais direitos de exploração devo comprar.

Para isso, o empresário investiu US$ 300 milhões do próprio bolso e levantou US$ 1 bilhão de terceiros. Então, em novembro, a Petrobras anunciou que havia encontrado um novo campo de petróleo em águas profundas e o chamou de Tupi. Alguns chegaram a pensar que o anúncio foi antecipado para impedir uma possível participação da OGX no leilão de direitos de exploração.

Determinado, Eike investiu US$ 100 milhões em pesquisa e fez propostas altíssimas por outros blocos de exploração. Alguns dizem que ele pagou muito. Mas, com o lançamento do IPO, seus investidores já conseguiram 4 vezes o que investiram, em menos de um ano.

O mais interessante é que a OGX não teve que extrair nenhum litro de petróleo para conseguir esse aporte. E se a exploração resultar em reservas reais, Eike provavelmente conseguirá atrair grandes investidores. Tudo indica que ele seguirá o precedente da MMX, empresa de ferro de seu grupo, que abriu capital em 2006. Eike vendeu metade do portfolio da MMX para a Anglo American, pouco depois de um ano. O valor chegou a US$5,5 bilhões, antes de se ter extraído qualquer minério.

No entanto, seu recente sucesso não seria possível sem nosso vigoroso mercado de capitais, que cresceu enormemente na última década. O Brasil recentemente conseguiu o Investment grade pela Standard & Poor's e pela Fitch, duas agências de classificação de risco, o que facilitou a tarefa de se vender algo aqui para estrangeiros. E não podemos esquecer que qualquer coisa que Eike tenha feito recentemente foi ajudada pelo alto preço das commodities.

Mesmo porque, a história do empresário guarda algo do Brasil antigo, que misturava política, influência e firmas controladas pelo estado. Seu pai foi Ministro de Minas e depois participou da criação do que hoje conhecemos como Vale, uma das maiores empresas de mineração do mundo. Os contatos de seu pai o lançaram no negócio de mineração. É evidente que todo esse know-how lhe deu várias vantagens comparativas.

Mas, uma coisa é certa: se Eike tiver coragem para sacudir o mercado de exploração de petróleo no Brasil, que é dominado por uma única gigante, será algo muito proveitoso para toda a economia.

Aos amigos,
a genialidade de Greenspan,

Marcos André Ceciliano

4 comentários:

Anônimo disse...

Explicação notória! Parabéns, Marcos.
Cada dia melhor. Para que ser prefeito se pode ser um gênio do mercado financeiro?

minha visão sobre a OGX mudou completamente.

Vamos almoçar qualquer dia desses.

Anônimo disse...

O texto é muito esclarecedor, sem dúvidas.
O que eu gostaria de saber é a razão de o Sr. Marcos André Ceciliano Junior Terceiro nunca falar sobre as falcatruas de Daniel Dantas em seu blog. Cada dia que passa confirmo ainda mais minhas suspeitas: o menino é fã do orelhudo, das suas malandragens.

Quem te viu, quem te vê.

Não vou assinar, você sabe quem é.

Anônimo disse...

Amigo, gostei dos comentários. Concordo que há um espectro obscuro por trás da alta desordenada desse papel. Seria mais uma "exuberância irracional"? rs
Comecei a ler o livro do Greenspan, ótima recomendação! Muito obrigado!

Anônimo disse...

É claro que tem uma malandragem do Eike aqui. Ele monta a empresa para os grupos lá fora, faz um dinheiro rápido com IPO e vende o resto da participação para terceiros. Fica como minoritário, com o bolso cheio de dinheiro. Em bem pouco tempo.

Isso sim é alavancagem. rs

Fica no Rio esse final de semana.
Beijinhosssssssssssss