terça-feira, novembro 08, 2016

A Ressaca Trumpeniana.

Hoje o mundo amanheceu diferente. A vitória de Donald Trump no sistema de colégio eleitoral, já confirmada matematicamente, é um marco na história americana, e certamente determinará uma nova ordem mundial.



O resultado dessa madrugada não é trivial, e deve ser avaliado por diversos aspectos, entre os quais destaco: o demográfico, o intelectual, o geopolítico, o psicológico e, por que não, o filosófico, já que Trump é a perfeita personificação do monstro Hobbesbiano.

Divagar sobre a derrota democrata passa ao largo de diversas questões, como a incapacidade de Hillary em vencer na Florida, o colégio eleitoral que garantiu a vitória de Obama em 2012. Resultado que pode ser explicado pela rejeição dos descendentes de Cubanos exilados ao governo Obama, que retomou recentemente a relação diplomática com os irmãos Castro.

Quem olhar com atenção o mapa de votos, perceberá que o cinturão industrial, hoje falido e sem empregos, votou unanimemente em Trump. Enquanto a costa oeste, com economia pujante e berço das prósperas empresas de tecnologia, votou amplamente em Hillary Clinton.



O que tiramos desse exemplo é que o discurso de Trump a população do cinturão funcionou. Essas famílias votaram no Republicano por acreditarem na promessa da retomada de seus empregos industriais que, durante as décadas de 30 a 80, foram a força motriz da classe média americana sem curso superior.

Esse é o principal problema dos eleitores de Trump: serem ignorantes a realidade. A verdade é que não basta o discurso ou a força de vontade de um Presidente para que se criem empregos de baixa qualificação e boa remuneração. A nova conjuntura econômica mundial, que passou por mudanças drásticas nos últimos 30 anos, não permite mais essa modalidade de empregos.

Os postos de trabalho que Trump prometeu a seus eleitores encontram-se na China, que detém a mão de obra mais barata do mundo. Sendo justamente lá que Donald instalou sua fábrica de ternos e gravatas, conforme exposto por David Letterman em seu extinto talk show.

Em suma, não há nada que Trump possa fazer para trazer esses empregos de volta. Convencer os eleitores do contrário só serviu para que o Republicano ganhasse votos, com a certeza de frustração futura.

Mesmo porque, criar bordões e propostas esdrúxulas, buscando sempre estabelecer identidades com o perfil do americano médio, foram a tônica da campanha republicana. Foi assim no discurso a favor das armas, contra os muçulmanos, no clamor pela deportação de imigrantes hispânicos, e na construção do muro na divisa com o México.

Após perder Ohio e Florida, Hillary ainda teria alguma chance, caso tivesse vencido em Minnesota, Michigan, Wisconsin e Pennsylvania. No entanto, esses foram estados equivocadamente ignorados pela campanha democrata. Hillary acabou perdendo em todos, com exceção de Minnesota.

O que mais assusta nesse processo é que, na manhã de hoje, o discurso do presidente eleito diferiu de tudo o que foi dito durante sua campanha. E essa não foi apenas uma estratégia para acalmar mercados. Ficou bem claro que a retórica do palhaço Trump foi utilizada apenas para ganhar o voto do americano médio.

A pergunta que vem agora é: se aquele não era o verdadeiro Trump, quais seriam suas verdadeiras propostas? O que será implementado em seu mandato? O Americano atento, após o discurso da vitória, certamente percebeu que acabara de dar um cheque em branco ao futuro Presidente.

Daí, vem a conjuntura assustadora: maioria na Câmara, no Senado e muito em breve no Supremo. Ou seja, um forte aparato de governabilidade será dado a um Presidente considerado apolítico, que nunca foi sincero quanto aos seus verdadeiros planos. É esperar para ver.

Nenhum comentário: