segunda-feira, outubro 22, 2007

Muito além de Rangum...

Quando tinha 15 anos, assisti a um filme que mudou o meu conceito sobre a Ásia. Beyond Rangoon, de John Boorman, contava a história de uma turista americana que viajou para a Birmânia (hoje Myanmar) e presenciou uma das mais brutais ações de repressão a um movimento pacífico, comandada pelo general Ne Win.

O filme é extraordinário. Uma das cenas mais marcantes é a de uma manifestação liderada por Aung San Suu Kyi. Lembro que, na época, fiquei fascinado pelo assunto. Passei duas semanas na biblioteca da UFRRJ procurando informações sobre o caso. Descobri que a líder daquele protesto era a filha de Aung San, herói nacional da independência da Birmânia, assassinado quando ela tinha apenas dois anos.



Em 1988, período abordado pelo filme, Aung San Suu Kyi retornou a Rangoon. Sua chegada coincidiu com o início de manifestações populares contra a repressão política imposta pelo regime militar. Em pouco tempo, tornou-se líder do movimento.

A Liga Nacional para a Democracia, partido organizado por Suu Kyi, venceu as eleições de 1990. Conseguiu 392 dos 489 assentos da Assembléia Popular. Entretanto, os deputados não chegaram a assumir. Os militares anularam o resultado da eleição e Aung San Suu Kyi foi presa.

Em 1991, ela recebeu o Nobel da paz. Não foi à cerimônia de entrega porque se encontrava em prisão domiciliar, que até hoje não foi revogada. Em 1993, a Junta Militar instituiu uma assembléia constituinte. Por mais absurdo que pareça, não finalizaram o texto da nova constituição até agora. Essa foi a forma que encontraram para não realizar novas eleições.

Por que tudo isso agora? Simples! Há três semanas, monges budistas iniciaram protestos contra a degradação econômica e a falta de democracia em Myanmar. Foram brutalmente reprimidos. Essa triste cena que acompanhei pelo noticiário internacional lembrou-me da importância da retomada do processo democrático em Myanmar, da luta de Aung San Suu Kyi.

Por essa razão, decidi me inscrever como voluntário no programa de refugiados da ONU, solicitando participação no conflito de Myanmar. Preenchi o formulário no site da UNHCR (United Nations High Commissioner for Refugees). Espero ser selecionado e enviado para a área de conflito.

Existe uma motivação a mais para esse engajamento: a ONU enviou o Brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, representante especial para o estudo de violência contra a criança no mundo, para acompanhar o caso.

Aos amigos,
Beyond Rangoon,

Marcos André Ceciliano

2 comentários:

Anônimo disse...

Blog do Marcos André é isso: um banho de história.
Grande garoto! Ótimo aluno.

Estou rindo da piada de Serra Leoa até agora... Ahahahahahaha.

Anônimo disse...

Querido Marcos,

sempre preocupado com as questões relevantes.
Saudades loucas dos seus beijos.