sexta-feira, dezembro 19, 2008

Solução: inflação! Como assim?

Com o corte de 0,75 p.p. anunciado na última terça-feira pelo Fed, muitas pessoas devem estar questionando se os mecanismos de intervenção do BC americano chegaram ao fim. Uma ótima pergunta! Obviamente, a próxima atuação da autoridade monetária não será através de cortes de juros. No entanto, ainda há muito o que o FED possa fazer.

O que acabo de enunciar está ratificado na seguinte passagem do press release do Fed:

"The Federal Reserve will employ all available tools to promote the resumption of sustainable economic growth and to preserve price stability. In particular, the Committee anticipates that weak economic conditions are likely to warrant exceptionally low levels of the federal funds rate for some time."

A frase "for some time" é estratégica, perfeita para garantir expectativas de juros baixos a longo prazo.

O próximo desafio do FED é derrubar a retórica da "estabilidade de preços". Na verdade, o FED nunca esteve comprometido com a estabilidade de preços, ao contrário do que a maioria possa imaginar. Ainda assim, a inflação durante os mandatos de Paul Volcker e Alan Greenspan sempre tiveram médias entre 2% e 3%. Prova disso é que, durante esse período, o FED poderia ter zerado a inflação se quisesse. Com a atual crise e a profunda redução nos juros, esse zero é uma possibilidade, sem falar do risco de ocorrer deflação continuada. Hoje, o FED precisa atuar para convencer as pessoas de que essa taxa voltará ao índice "normal", entre 2% e 3%.

Elaborei abaixo uma boa sugestão para o próximo press release do FED:

"Na presente circunstância, o comitê reconhece que seria desejável uma inflação moderada sobre o nível geral de preços de uma década, que precisa ser cerca de 30% maior do que o de hoje. Por conta disso, manteremos a postura da política monetária suficientemente parcimoniosa para atingir esse grau de inflação ao longo dos próximos dez anos.

Ou seja, ainda que o FED não possa reduzir a taxa de juros nominal, poderá atuar para a redução da real, incorrendo em um modesto aumento no índice inflacionário.

Alguns podem classificar esse ato como uma mudança radical na política monetária. No entanto, dado o enfraquecimento atual da economia, um pouco de radicalismo certamente geraria algum efeito positivo. Sinceramente, prefiro o FED comprometido com o target de uma inflação modesta, do que ver o governo americano desembolsando um trilhão em novos gastos. Por essa razão, a política monetária deve ser priorizada, não a fiscal. Porque, apenas dessa maneira, a economia retornará ao pleno emprego e voltará à trajetoria de crescimento sustentável sem onerar os futuros contribuintes americanos.

O abandono da "estabilidade de preços" é o equivalente moderno ao abandono do padrão ouro por Rossevelt. Mesmo porque, dentre todas as medidas tomadas por Rossevelt para tirar a economia da recessão, o abandono do padrão ouro foi a mais bem sucedida. Hoje, a política monetária americana não é guiada pelo ouro, ou pelo medo da inflação. Por isso, os norte-americanos devem esquecer esse medo, pelo menos por um tempo. É como Jim Tobin disse certa vez: existem coisas piores que a inflação, e os EUA está infestado delas.

Aos amigos,
o novo disco do The Verve,

Marcos André Cecilino

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