Acabo de assistir "The Big short", obra cinematográfica que tem bom roteiro e uma proposta inquietante: esclarecer ao grande público a complexidade da crise econômica de 2008.
Apesar do tema já ter sido abordado por outras produções, há de se reconhecer o mérito de Adam Mckay, que optou por contar a história dos poucos agentes de mercado que, ainda em 2005, perceberam os problemas nos Subprimes e CDO's.
Essa ótica invertida foi importante para o sucesso do filme, e é praticamente a mesma estratégia utilizada por Jared Dillian em "Street Freak", livro que conta em pormenores a derrocada do Lehman Brothers (recomendo a leitura).
Não restam dúvidas de que o resultado principal de "The Big short" é levar ao espectador a percepção de que a crise de 2008 não deriva de varições normais de fatores macroeconômicos, mas de uma sequência de fraudes, cometidas por bancos, agências de risco, securitizadoras e o próprio Federal Reserve.
O filme também foi bem sucedido na seleção das histórias vencedoras desse período. São impressionantes os feitos de Michael Burry, Mark Baum e Jared Vennett; não apenas pela percepção da crescente inadimplência dos subprimes, mas principalmente pela coragem em marcar posições em CDS's, em contraposição as apostas dos bancos e agências de risco da maior economia do mundo.
Mas, nem tudo é glória. O filme peca na baixa exposição das agências de risco, que fraudaram e/ou negligenciaram as análises das obrigações colateralizadas, e são as principais culpadas pela crise de 2008.
Sendo importante rememorar que, se Standard & Poor's e Moody's tivessem analisado os CDO's adequadamente, não teriam atribuído notas AAA a essas obrigações, que eram compostas em até 95% por subprimes. Sem a boa nota de classificação, essas obrigações não teriam sido compradas e se multiplicado em fundos de investimento do mundo inteiro. O que evitaria, no mínimo, a globalização da crise.
Ponto relevante é que essas são as mesmas agências que hoje rebaixam o Brasil e a Petrobras, através de relatórios simplórios e vagos.
A grande lição do filme é dada com dedo em riste, pelo personagem de Mark Baum: "Vivemos numa era de fraude na America. Não apenas nos bancos, mas no governo, educação, religião, comida e até mesmo baseball. O que me incomoda não é o fato de que fraudes não são legais. Ou que a fraude é má. Durante 15 mil anos, fraudes e pensamentos míopes nunca funcionaram. Nem ao menos uma vez. Eventualmente, você era pego e as coisas diminuíam. Quando por diabos nos esquecemos disso? Eu achava que éramos melhores que isso, realmente achava."
Outra falha do filme são as tímidas citações a George W. Bush e Alan Greenspan, dois dos principais agentes da crise americana. As passagens que os mencionam são curtas, não apresentam críticas ao liberalismo de sua gestão, e nem se preocupam em esclarecer sua negligência deliberada.
Ainda assim, o filme é um excelente resumo da crise. Não deve ganhar a estatueta, mas certamente cumpriu sua função.
Aos amigos,
A garota Dinamarquesa,
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