quarta-feira, março 15, 2017

A Holanda de Wilders vai as urnas.

Após alguns meses de descanso, retomo hoje a escrita nesse blog. Acabei por não manifestar-me nos assuntos mais espinhosos do início de 2017, como a aprovação pela Alerj da cessão das ações da CEDAE, em garantia a uma operação de empréstimo, que também concorre para um longo período de carência no pagamento da dívida do Estado junto a União, mas não foi propositadamente.

Como terei a oportunidade de discutir esse assunto daqui a 05 meses, quando dos efetivos desdobramentos dessa aprovação, deixarei para o momento futuro meus modestos comentários.

Hoje o que me chama a atenção e me instiga a escrever é a eleição na Holanda. Evento que coloca no centro da discussão européia o avanço dos partidos de idéias ultradireitistas, que defendem o nacionalismo desmedido e a rejeição de refugiados, ferindo inclusive o princípio internacional de non-refoulement.

A última pesquisa de intenção de votos, publicada na data de ontem, aponta a liderança do atual Primeiro Ministro Mark Rutte, do partido liberal-democrático. Seguido do ultradireitista Geert Wilders, do Partido da Liberdade, que prega idéias contra a União Européia e o Islã.

Apesar de estar na política há décadas, Wilders nunca teve protagonismo, relevância ou aceitação pública. Situação que mudou nos últimos 03 anos, com a crise econômica do bloco Europeu e a questão humanitária do recebimento de refugiados na Europa.

Vozes como a de Wilders, na Holanda, e de Marine Le Pen, na França, ganharam força no mesmo instante em que a população de seus países se viu no meio de uma crise econômica, com relevante diminuição da renda e emprego, mas tendo de receber e arcar com os custos de refugiados de países em guerra. Esse é um corolário complicado, porque implica da internalização de um problema de outra soberania, em compartilhar o custo de uma demanda da qual estes cidadãos não eram parte.

Ainda que prevaleça a questão humanitária, a verdade é que em tempos de crise as pessoas preocupam-se menos com os problemas do vizinho, já que estão focadas na resolução dos seus próprios. Se essa é uma verdade para um país como o Brasil, com população teoricamente amiga e solidária, imagine para a população Européia, marcada por uma educação mais rígida e individualista.

Como não há nada que não possa piorar, os últimos conflitos entre Holanda e Turquia dão mostras de que influenciarão dramaticamente a decisão dos eleitores na votação. As declarações do Presidente Erdogan, de que os holandeses são nazistas, racistas e islamofóbicos, acabam por impulsionar a ultradireita na reta final; apesar dos esforços de Mark Rutte em repreender as afirmações com uma firmeza não habitual, que é sem duvida consequência do período eleitoral,

Felizmente, as últimas pesquisas do I&O Research mostram que nenhum dos 18 partidos holandeses conseguirá mais do que 20% dos 150 assentos em disputa no parlamento. Tem-se, portanto, uma pulverização partidária que minimiza o risco de que Wilders consiga ser indicado a Primeiro Ministro. Hoje essa é uma chance praticamente nula. No entanto, assusta demais o fato de que o ultradireitismo esteja ganhando força junto a população Européia, ainda mais após o Brexit e a eleição de Trump nos Estados Unidos.

Enquanto Wilders está fadado a apenas ganhar boa quantidade de cadeiras no parlamento holandês, o avanço do ultradireitismo no país dos vinhos é mais preocupante. Libertè, Egalitè e Fraternite para os nossos, dirá Marine Le Pen, e muitos franceses concordarão com ela.